quarta-feira, dezembro 30, 2009

Tchin-tchin!

É bom de ver que nisto de champanhe ou, a bem dizer, espumante, e dos votos que com ele se fazem, “albarda-se” a bebida ao jeito de quem bebe. É por isso que, à meia noite do último dia do ano, terei na mão uma taça (qual “flute” qual quê…) de Murganheira (passe a publicidade) meio seco, já que os meus votos são bem nacionais e oscilam entre a doçura e o sabor seco das incertezas de todos os dias de amanhã. Talvez esse seja o líquido com o sabor dos dias que aí vêm e, dos quais, sabemos só que é improvável que sejam muito melhores que os que passaram. Mas, quando o fio de doçura se sente nos lábios, acolhemos em nós o círculo dos afectos, aqueles a quem desejamos um 2010 melhor que qualquer outro ano. E, como de costume, brindaremos com a esperança renovada dentro de nós porque, já lá diz Drummond de Andrade

“É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre”



A todos os que aqui continuam a passar, um óptimo 2010! Tchin-tchin!

quarta-feira, dezembro 23, 2009

Natal

Ah, o Natal! Aquele tempo de luzes e brilhos, de calor dentro das casas, de famílias reunidas. A noite do amor universal. Da fartura sobre as mesas, de prendas oferecidas com amor. Ah, esse Natal idílico, sonhado... E o Natal dos crentes. Do menino que veio para nos salvar. Que nasceu na pobreza, sem maiores luzes que a tal estrela que dizem ter aparecido, sem maior calor que o de uma vaca e de um burro. Sim, depois aparecem os reis magos e as coisas começam a brilhar… Ah, o Natal dos que perdemos e que naquela noite estavam tão próximos! Dos que estão sós, tão sós que nem se querem lembrar que é Natal. Dos que têm fome e frio e nem um abrigo. Dos que morrem nessa noite, nesse dia, e todas as noites e todos os dias nas guerras deste mundo. Ah, o Natal de todos nós!

Feliz Natal para todos os que por aqui passam!

sábado, dezembro 05, 2009

conversa

tenho este hábito de iniciar conversas como se da minha janela de chuva avistasse algum olhar cúmplice que me desse de volta as palavras perdidas algures entre horas de sufoco e outras de tédio que assim é feita a vida digo isto como se não soubesses mas a minha voz não serve para trazer nenhuma novidade são só pensamentos que correm em fio como a chuva de sentimentos molhados que se entranha na pele nos músculos até rasgar depois deixamos que tudo seque que tudo sare e olhamos de novo o sol aprendemos talvez tudo isto lentamente não somos feitos de massa moldável e só depois de algum tempo percebemos a vantagem de dobrar e não partir será a isso que chamamos sobrevivência se alguém soubesse seria senhor dos mistérios da vida sou mais de ciências exactas e gosto de explicar os mistérios sem domar os pensamentos só porque há coisas que não se explicam ainda existe em mim alguma rebeldia depois de tanto tempo talvez seja isso que me chama para lá da janela de chuva para lá da protecção claustrofóbica do vidro à conversa sem fim adivinhando olhares cúmplices.

domingo, novembro 15, 2009

outono


by Karel Sobota

já não escreves, disseste, como se o correr lúdico dos dedos à procura das palavras fosse mais uma cumplicidade ou só uma conta do colar de sentimentos que se vai acrescentando, tenho que dar voltas infindas no colar, deixá-lo fluido em volta do teu/meu pescoço, lassos laços estes das doces empatias, dos risos e da ternura, qual rio da nascente de um olhar para a foz do outro, será então assim e eu escrevo até que as palavras dancem na chuva e o vento as leve ao destino que não sei se têm, porque pairamos aqui neste outono onde o frio já se sente, são esses os arrepios dos meus dias de sol, melancolia inevitável em movimento sinusoidal, hoje as ondas fizeram a curva descendente, junto uma conta ao colar dos afectos e escrevo.

quarta-feira, outubro 28, 2009

do lento movimento das tartarugas



do lento movimento das tartarugas
que não apressam as horas eternas
da cíclica rota dos ponteiros do relógio
do voo das folhas ao ritmo das estações
do tempo, do implacável tempo
de tudo te diria hoje
não fora o dia lembrar
o que em mim está perene e vivo
dádiva guardada no caminho do olhar


foto by Mark Hamilton

segunda-feira, outubro 19, 2009

Mais uma vez



Mais uma vez bate na janela
Uma leve sombra de ouro
Cola-se na pele que arrefece
Um arrepio conhecido
Paira no vento um eco antigo
De velhos sentimentos
Uma outra vez o voo das folhas
Traz subtis murmúrios de frio
Talvez presságios de inverno
O Outono entardece no jardim
Ainda esta vez.

sexta-feira, setembro 04, 2009

Palavras de entender o mundo

by Safak Tortu


Nas manhãs deste tempo, deixo entrar a brisa que faz cantar as árvores. Acordo sonhos adormecidos à míngua de estrelas. Longínquo há um vago som de água. Falarão outra vez as fontes que quebravam o morno dos dias? Para captar o murmúrio, calo o pensamento e deixo os sentidos vaguearem ao encontro das palavras de entender o mundo. Só de olhos fechados sinto o sabor de as misturar lentamente como se pintasse uma tela de um branco suplicante. Espalho a cor das palavras, devagar, devagar…

segunda-feira, agosto 10, 2009

era eu?


se o sol entrar pela vida sem pedir licença, como falarei sem estilhaçar o frágil cristal da memória? por vezes digo “lembras-te”, só porque queria que te lembrasses. sei que se vão apagando os pormenores, os locais já são só aguarelas sem forma. na verdade, as cores escorrem na tela deixando um borrão indecifrável. era eu ou outra de mim? tantas, tantas foram… tantas sou! ainda que não as reconheças. tento não destruir o que ficou gravado nas paredes transparentes que ecoam dentro de mim, sem (me) te ferir. mas ainda não estão maduros os sons simples da verdade. a urgência reside apenas na dúvida da estação certa.

domingo, agosto 02, 2009

Palavras estranhas

by Monica Iorio

As palavras custam-me. Empastam-se, enrolam-se nos dedos. Não digo que se prendem na boca. Nunca tentei dizê-las. Param no caminho entre a mente e as mãos que escrevem. O pensamento é demasiado complexo. Existe um poema incompleto que não se sabe dizer. De contradição em contradição procuro a unidade. A impossível unidade. E as palavras doem-me, fogem para alguma parte de mim que não alcanço. Estranhas como sons vazios de sentido. Falas de alguma personagem que inventei mas não conheço.


[De volta, lentamente e procurando as palavras...]

sábado, julho 11, 2009

estrada larga


by fresh water tank

sigamos então essa estrada plana
a casa de ontem já não tem calor de verão
corre um vento no pátio em voo de arrepio
que esfria o riso colado nas esquinas
caminhemos ainda assim
surge uma luz que tínhamos esquecido
nas margens de água em que buscamos vida
ou apenas sonho calor repouso manta
aberta cancela do jardim e estrada larga
fundo trilho destes dias
sem rótulo de partida ou de chegada


[Boas férias a quem passa. Perdoem a falta de assiduidade. Volto lá para Agosto]

domingo, julho 05, 2009

Pedra e ar


Por vezes sou a pedra virada para o mar. Imóvel, numa espera ardente. Outras, sou ar, a vibração inquieta, sem sossego. Numa constante procura de correntes favoráveis. Vento, quando chega o tempo da borrasca.
Sei os mundos secretos, paralelos que separam a pedra do ar solto que a rodeia. E tantas vezes os aproximam, como se o sólido e o etéreo fossem um só corpo. Uma só palavra. A que digo para ser ouvida. A que procura entendimento. A que, na imensidão da água ou na inquietação do vento, se perde, sem que dela reste o eco. Ou sequer o indefinível aroma chegue ao alvo desejado. E então sou só pedra. Que o ar escoa-se em caminhos cada vez mais estreitos.



Obrigada, Laura

terça-feira, junho 30, 2009

cor mutável

by June Miller

Olho três vezes a imagem no espelho. Nunca idêntica. O que muda é a cor. Não a dos olhos, a dos cabelos ou da pele. A cor de mim. Já não procuro identidade. Camaleão adaptável num labirinto sem saída. Chocando com as paredes em tons de arco-íris. Rasgando a pele a cada mudança.

domingo, junho 21, 2009

A palavra solta



Não penso
Procuro
Percorro às avessas
O tempo obscuro
Envolvo o corpo
Nas pregas tecidas
De antigos minutos
Deslizo num túnel
De horas sofridas
Não paro
Recuo
Caminho na borda
Do sentir revolto
Da espiral inversa
E volto
Ao verso primeiro
À palavra solta
No espaço contido
Do eu verdadeiro.

domingo, junho 14, 2009

nada rima com saudade



nada rima com saudade. são lentas as margens do tempo. ínvios caminhos ardem sob um sol inesperado. os pensamentos correm livres. não se amordaça o que foge dos trilhos e procura pontes sobre rios intranquilos. quando a chuva penetra a terra, nascem flores entre as pedras. o barro molhado faz brilhar os olhos andarilhos onde inscrevo os meus versos. e ainda assim, nada rima com saudade.

quinta-feira, junho 04, 2009

o amor




ah amor… já lá dizia a minha avó… bom esqueçamos o que dizia a minha avó que não fica bem aqui num blog tão bem comportadinho mas lá que me apetecia ir buscar os ditados da família toda apetecia-me e tudo isto porque a palavra amor tem muitas interpretações é o que todos dizem ele é o amor universal o amor maternal o amor filial… e eu só tenho que acreditar embora me pareça que esse é o amor em inglês love que serve para tudo em português amor é mais o que a minha avó dizia mas passemos à frente agora arranjar uma foto para este tema tão lato já é um bocadinho demais até porque não tenho fotos correspondentes à definição da minha avó assim não sei porquê apeteceu-me pensar que amor é um cadeado com um coração inscrito ao abandono numa ponte solitária uma coisa assim parva que me deu…


[No PPP a palavra desta semana é amor. A definição da minha avó, só a digo em privado. A foto foi tirada em Praga.]

sexta-feira, maio 29, 2009

como crianças



vivíamos como se fossemos imortais. talvez. algo de nós, pelo menos, seria imortal. pensávamos assim, como crianças que não acreditam que o que amam pode morrer. para sempre, pensam. as crianças também perdem a inocência e a realidade impõe-se-lhes. um dia. um dia qualquer daqueles em que ainda pensam que… pensam, pois. como nós pensávamos. continuamos a pensar tanta coisa… mas o que pode comparar-se a ser imortal? a ser para sempre, como seres que escapam às leis dos homens. ou dos deuses? bah… que se lixem os deuses. não me dizem mais do que o que sei. que é limitado, concerteza. os deuses mandam-me conformar à finitude. a não aspirar nada para sempre. mas eu sei. para sempre é só enquanto um pedaço de nós ainda se assemelhar às crianças. enquanto acreditarmos que o que amamos não morre.

segunda-feira, maio 25, 2009

o violoncelo



by Rainer Pawellek

vários são os sons do primeiro dia. a água que corre. a colher que bate na chávena. um leve miar do gato. o ruído indistinto de quem ainda se entrega ao sono. vindo de muito perto, o violoncelo. gemido dolente. um apelo. um grito que sobe na escala da angústia. até à queda na nota grave. o inaudível som do violoncelo amanhece dentro de mim. no início do primeiro dia.

sábado, maio 16, 2009

Escarpa


Ergue-se a escarpa no caminho da vida
sem retorno
sem escada
ou vereda que a aplane.
Só pela escalada no ar cristalino
se alcança a visão de novos caminhos
no horizonte escondido.


[O meu tempo para partilhar com todos vós é cada vez mais curto. Socorro-me de palavras antigas. Que todos façam bem a escalada das suas escarpas!]

sábado, maio 09, 2009

depois veio a chuva



foto by yein

depois veio a chuva. nesse dia a ternura era palpável na humidade da brisa. vertigem diluída na hesitação do ar perdido em mornos arrepios. como em todos os dias assim, acolheu a água que lhe escorria nos braços. riu-se da leveza dos pés molhados nas sandálias. e não pensou. entregou-se ao murmúrio dos sentidos. sons. cores. aromas. a terra molhada. o chamamento. simplesmente não pensou. dissera-lhe o tempo, muitos dias antes daquele, que a razão corrompe momentos perfeitos.

segunda-feira, maio 04, 2009

Doce Maio




Doce Maio de dias iluminados. Mês suave no nome que canta na língua, nas carícias do sol que desperta a pele ao toque. Maio é a afirmação de uma promessa que por vezes cintila em Abril. Maio quer-se feminino, fértil, grávido de esperança. Talvez não este Maio que, indiferente aos tropeços do mundo, se dá em flores, como sempre. Afirmação de que a vida aí está, apesar de… Então que floresça Maio, que cresça em plenitude. E que a vida se afirme em explosão, apesar de…

quarta-feira, abril 29, 2009

Estamos mesmo a precisar...



Estou cansada, mesmo. Do trabalho, da politiquice (nem é política, na verdade), da crise, da gripe. Então deixem que vos ofereça algo que se passou na linda Centraal Station de Antuérpia, mas que gostava de ver em espaços públicos de Portugal. Tragam a alegria e a esperança para a rua... estamos todos a precisar!

quinta-feira, abril 23, 2009

Densidade




Falemos então de densidade. Segundo o dicionário:

1. Qualidade de denso; espessura.
2. Relação entre a massa ou o peso de um corpo com o seu volume ou com a massa ou peso de outro corpo do mesmo volume.
3. Fotogr. Grau de opacidade de uma imagem em papel ou filme.


Talvez fossem demasiado densas, a ansiedade inicial e a alegria que se seguiu. Talvez nada pudesse medir a espessura daquele vermelho infinito. Vermelho de esperança, de afirmação, de certezas improváveis.
Talvez os corpos se sentissem leves, como se a densidade tivesse baixado subitamente. E pudessem dançar, soltar-se de amarras longas…
Talvez até o grau de opacidade das imagens que restaram só realçasse os cravos na manhã de cinza.

Talvez… tudo isto aconteceu há muito tempo e hoje tenho a sensação duma explosão, intensa, densa… e breve.


[ A palavra do PPP era “densidade”. E a minha foto seria esta, qualquer que fosse a palavra. Porque, a este Abril longínquo, todas as palavras se aplicam. ]

sábado, abril 18, 2009

naquele dia



talvez o mundo tivesse caído naquele dia. o seu mundo, pelo menos - não brinques, Filomena, não rias - e porque riria? não havia pessoas eternas, afinal. não, não havia, porque a avó (já bis, já avó do pai) estava lá dentro tapada com o lençol - Filomena, fica no quarto! - mas tinha que espreitar. porque não se mexia? não falava? nem os olhos se prendiam nos dela. húmidos de ternura - não chores minha menina. minha menina - e agora ia ser a menina de quem? tinham pressa que crescesse. dez anos, perdidos entre adultos - Filomena, estás a sonhar? - estava. tanta vez. agora os sonhos esbarravam naquilo. no que julgava não poder acontecer - ai, esta rapariga no que andará a pensar? - em nada, mãe. em nada, pai. só os porquês. os porquês que seguiriam com ela toda a vida. não havia pessoas eternas. também eles. um dia. pai, mãe. e o frio, o susto, a angústia. talvez sim. talvez o mundo tivesse desabado naquele dia.

terça-feira, abril 14, 2009

Páscoa de vento e sal



Páscoa de vento e sal. Entre o sol e a chuva. Dias caprichosos, na busca da tranquilidade que se tem tornado escassa. E o tempo, de tanta incerteza… Chuva que não chega a lavar, sol que não dá para aquecer. O vento, sempre presente, traz o aroma do mar, forte. Aguçando o desejo de dias suaves. Uma espera inquieta, sem data para terminar.

quarta-feira, abril 08, 2009

Páscoa




Páscoa. Passagem da morte para a vida, pelo sacrifício. Renascer. Ressurreição para os cristãos. "Pessach" judaica, passagem da escravidão para a libertação. Através, também, de um sacrifício, o dos primogénitos do Egipto. Renascimento da natureza, após o sacrifício necessário da sua morte invernal. Assim era nos tempos antigos. Assim é hoje, quando, sem saber, repetimos os rituais. Os fofos coelhinhos e os saborosos ovos. Símbolos de fertilidade. Renascer, sempre. Refazer o ciclo. Recomeçar.

[Escrevi isto há uns tempos. Mas mantem-se o que queria dizer. Para todos, uma Boa Páscoa cheia daquelas coisas doces que, não sendo de comer, alimentam a felicidade.]

sexta-feira, abril 03, 2009

Múltipla



Múltiplas cores
Duma paleta arbitrária
Múltiplos sons
Procurando a sinfonia
Partes de um todo espalhado
Nos recantos de viver
Múltipla
Sem chegar à unidade
Manta de gastos retalhos
Remendados dia a dia
Múltipla
Diversa mas tão igual
Na procura inquieta
Da luz que ilumina o voo
Da água do sol do sal
[da vida]

quinta-feira, março 26, 2009

nem um rumor se insinua


by Marcin Klepacki

nem um rumor se insinua
na insuportável tensão das paredes
mudas testemunhas do fio das horas
só um leve raio de sol
acaricia lento a soleira da porta
e a esperança que se espreguiça
no regaço côncavo das mãos

sábado, março 21, 2009

Hoje vi a poesia


...na vela do barco que convida à aventura


...na beleza da mulher que carrega a esperança no ventre


[Hoje, Dia Mundial da Poesia, andei por aí a procurá-la. Porque as palavras escasseiam.]

terça-feira, março 17, 2009

Cristal frio

by peta jones


As madrugadas estão prenhes
De implacável lucidez
No seu ventre adejam pássaros
De agoiro
Sem rótulo de bom ou mau
Só certezas de coisas por vir
Até ao dia em que se abatem
Na poeira que contemplo
Essa será a hora da limpidez
Do cristal frio de que me escondo
Com medo que me cegue

Preparo-me devagar
Para enfrentar o espelho
De alma sem maquilhagem


[Sem tempo para escrever nem para vos visitar, relembro palavras antigas. Um beijo para quem aqui passa.]

quinta-feira, março 12, 2009

Mil anos passados


Disseste
Mil anos passados e aqui estamos
O aroma e a luz, os mesmos, exactos
Os olhos que se penetram
E a voz de murmúrio para dizer
Coisas guardadas no fundo de nós
Ou a gargalhada que se liberta
Num só momento único cúmplice
Mil anos passados
Lembrei-te eu
Somos os mesmos que ontem se foram
Aqui, no sítio de sempre
Que, de encanto, tem o que lhe damos
Mil anos passados
O tempo não é corcel que nos transporta
Em louca correria
Mas breve passagem não percebida
Como se fosse ontem.

Esquecemos a história daqueles tempos
Que não o foram dentro de nós
Iguais
E mil anos passados…

domingo, março 08, 2009

Praga - just have a look




Até sempre, cidade onde a alegria de viver anda de mãos dadas com a arte e a história.

sábado, fevereiro 21, 2009

hoje só quero



...um tempo feito de manhãs ensolaradas em que o silêncio se alonga na preguiça dos gatos. um tempo sem tempo que se afunda em pequenos confortos e doces palavras sussurradas. horas compridas adivinhadas pela luz coada da janela. um tempo suave em que o corpo flutua como se tudo estivesse bem no mundo.


[um tempo de preguiçar. volto lá para a segunda semana de Março. bom descanso para todos, se for o caso ]

terça-feira, fevereiro 17, 2009

Místico



by zabaa

A infinitude do silêncio colava-se-lhe ao corpo. Caminhava lento, passando as mãos nas formas que o sincelo conseguia urdir nas árvores. A casa era mais um eremitério onde a única preciosidade vinha da luz que entrava a qualquer hora. Havia nele uma aura de misticismo que, no princípio, os outros veneravam. Tocavam-lhe como se lhes pudesse dar o pão da vida. Ou como se dele jorrasse unguento para as dores da alma. Comprovado que não fazia milagres, passaram a olhá-lo com comiseração. Por fim, devia ofendê-los pela diferença, tal a aleivosia com que, em cada dia, o humilhavam. Quando partiu, as árvores choraram, em cada jóia de gelo derretida.


[Brincando com as palavras. Texto do 8º Jogo das 12 palavras]

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Obrigada, JPD, pelo prémio e pela presença amiga.

sábado, fevereiro 14, 2009

Porque hoje é Dia dos Namorados


by angelicatas

Na palavra desarmante
me encontras presa
oscilante
entre a manhã que adivinho
e a noite que anuncias.
E é na orla dos dias
desse difícil caminho
que te chamo amor
amante
lançando a voz sobre o fio
dessa lâmina de mágoa.
Vê que no leito do rio
que o teu olhar alcança
o meu corpo é a água.


[Palavras escritas há uns tempos. Um poema para adoçar o dia]

sábado, fevereiro 07, 2009

o que devia estar perto



traz o ar um prenúncio
ou talvez um sussurro
pronunciado
pressentido
vem no vento a incerteza
do que devia estar perto
aberto
cavalga a pura brisa
um áspero sopro de secura
as ondas que me atingem o peito
convocam lembranças revoltas
nas mãos tenho só a brancura do sal
líquido sabor que as molha gota a gota



________________________



Obrigada, Maria Dias. Este prémio é para todos os que aqui passam.


quarta-feira, fevereiro 04, 2009

vento



o vento não leva consigo o silêncio
só amplia o grito que nele existe
no verde inquieto da copa das árvores

segunda-feira, fevereiro 02, 2009

Particularidades

Fui desafiada pelo Herético a expor aqui, em público, algumas das minhas particularidades. Isto não é fácil, acreditem. Porque não tenho grandes particularidades confessáveis. Mas há sempre pequenas coisas que nos revelam. Ora aí vai:


1 – Sou uma confessa adepta do Benfica. Já fui fanática, agora sou só… sofredora. Mas afinal não somos 6 milhões :)?
2 – Gosto de gatos, de gatos e de gatos… Não tenho nada contra os cães, mas cá em casa vivem dois gatos. Pronto, são manias.
3 – Não sou capaz de ler um romance sem ir ver o fim. Estraga o prazer da leitura? Agora cá… aguça a vontade de perceber como se chega lá.
4 – Adoro fotografar e detesto que me fotografem. A falar verdade, as fotos minhas de que gosto foram tiradas por mim. Coisas…
5 – Gosto da chuva de Verão que limpa e refresca. Ou das grandes chuvadas a que se segue o sol. Detesto a chuva miúda e insistente, assim como a que tem caído nestes últimos tempos. Espero que passe depressa.
6 – Gosto de viajar e, cliché dos clichés, Paris é a minha cidade do coração. Vou procurando outras que talvez a igualem. Mas a viagem que mais me encheu de beleza os olhos e a alma foi, mesmo, aos Açores. Uma paixão.


Bom, não doeu. Vai ser mais difícil passar o desafio a seis pessoas de entre os que aqui passam. Acreditem que não é por mal, bem pelo contrário. Gostava de saber particularidades de:










sábado, janeiro 31, 2009

hibernação



nada rompe o silêncio que tomou conta dos dias
nem o sono implícito das árvores
os que hibernam mantêm a dormência
que nenhum grito consegue quebrar

alguns estão atentos aos sinais mais ténues
seguram nas mãos a leve chama verde
trémulo calor de esperança
que aquece as palavras do poema.

terça-feira, janeiro 27, 2009

tempo de inverno




by darkshape


são curtos dias de alongar gelos
que a manhã desperta
vento que solta estranho silvo
de dor desfeita em água fria
abrem-se as mãos ao sol do dia
para logo a vida se aninhar
na quente gruta da espera

no canto cinza do amanhecer
soa a melancolia da terra dormente
deitada em silêncio
sabendo o segredo que o ventre carrega
onde o frio não chega
esperança calada da semente
doçura verde do renascer
_________________________________________



[Obrigada, Sereia Azul. Deixo este prémio para todos os românticos que sobrevivem ao romantismo. :)]

sexta-feira, janeiro 23, 2009

dou-te as mãos



by FrancoisR

dou-te as mãos
pontes de água deslizante
elos de leve firmeza
solta vereda de abraços

dou-te as mãos
e por caminhos errantes
dou-te laços

terça-feira, janeiro 20, 2009

Chuva inquietante



by yein

Diluo-me na chuva inquietante. Escorro melancolia nas gotas de água. Embebo-me na terra molhada, nas goteiras das árvores. Embrulho-me no manto frágil do ar molhado. No frio húmido que me penetra. Fundo, como uma união urgente. Enrolo-me sobre mim mesma. Casulo expectante de alguma borboleta de mil cores. Em voo livre…

sábado, janeiro 17, 2009

Golpe



by mecanna

Pus um pé
Na margem afiada da vida
E olhei o fio vermelho que escorria
Como se não fosse meu
Há golpes que a razão estanca
E qualquer brisa sem rumo reabre.

sexta-feira, janeiro 16, 2009

Obrigada!

Ainda há quem me consiga surpreender. No bom sentido, diga-se, quando as surpresas vêm de pessoas que muito consideramos mas que os caminhos da net não trazem muito próximas. A minha amiga mcorreia ou maria de fátima achou por bem atribuir-me um desses prémios da blogoesfera que, sobretudo por vir dela, me sensibiliza muito. Obrigada, mulher, já viste o longo caminho que percorremos por aqui?


Então mostremos o selo
e enunciemos as regras:

- copiar o prémio e colar no seu blog
- fazer referência ao meu nome e colocar o endereço do meu blog
- presentear seis Mulheres cujos blogs sejam uma inspiração para si
- deixar um comentário nesses blogs para que saibam que ganharam o prémio

Pasmem, homens que aqui vêm: o prémio é só para MULHERES!!

E o prémio que gostaria de dar a todas(os), vai para:

1 - Justine do Quarteto de Alexandria ( a dividir com o Mounty, apesar de ser macho...)
2 - hfm do Linha de Cabotagem III
3 - M. do Reflexões Caseiras
4 - bettips do bettips
5 - Clarinda Galante do Sombras de Mim
6 - CNS do Deserto do Mundo

A todas, um beijo e obrigada por estarem presentes.

terça-feira, janeiro 13, 2009

Céu de geadas



by avela

São cinco da tarde e vejo a lua
o céu frio desmente a luz do sol.
Será só uma miragem dos sentidos
esta lua que vejo em pleno dia?

Talvez paire nesta lua vespertina
a esperança pura dum céu de geadas
breve prenúncio de eternas madrugadas.

sábado, janeiro 10, 2009

As meninas da quinta





Nalguns dias faltava à escola. Sem grande sorte porque aquilo de viver numa aldeia tinha os seus custos. Quando Marília e ela faltavam, a professora corria para o único telefone da escola e perguntava se havia algum problema na quinta. Ambas tinham como certos, o castigo em casa e as reguadas no outro dia, que a D. Maria de Fátima não era boa de assoar. Ainda assim, ambas achavam que valia a pena a liberdade daquelas correrias pelos campos e o lanche simples de leite acabado de mungir e pão com marmelada que lhes davam na casa do António, onde, sabia lá ela porquê, acabavam sempre por ir parar. António era pouco mais velho que elas, mas já trabalhava no campo, abandonada que fora a escola, por razões que aos pais pareciam maiores. Muita pobreza havia por aquelas terras, lado a lado com a riqueza dos donos das vinhas a perder de vista. Eram outros tempos. Seriam? Voltando às “meninas da quinta”, Marília era mais novinha e em tudo via motivo de risos. Brincar com os animais à volta da casa ou à “apanhada” com as irmãs de António (família grande, que era assim que Deus queria) fazia a sua felicidade. Filomena, já mais crescidinha, falava com a senhora Rosalina, sem tirar os olhos do portão. Quando o coração disparasse acelerado, era sinal que António voltava. Sorria-lhe e ajudava-o a arrumar as alfaias, feliz só por estar perto. Mais tarde Filomena saberia dar nome àquela doçura inquieta que a invadia, junto de António. Mas já estaria tão longe que dele só lhe restaria a recordação de uns olhos muito azuis. Naquele tempo, o melhor do dia, o que verdadeiramente a fazia esquecer os castigos e as reguadas que a esperavam, era quando a senhora Rosalina dizia: “António, já se faz tarde, vai levar as meninas à quinta, não se vão perder por esses campos”. Longe da casa, António dava-lhe a mão – és tão desastrada que ainda cais – e assim iam, muito devagar porque as pernas de Marília talvez não os conseguissem acompanhar…