sexta-feira, maio 29, 2009

como crianças



vivíamos como se fossemos imortais. talvez. algo de nós, pelo menos, seria imortal. pensávamos assim, como crianças que não acreditam que o que amam pode morrer. para sempre, pensam. as crianças também perdem a inocência e a realidade impõe-se-lhes. um dia. um dia qualquer daqueles em que ainda pensam que… pensam, pois. como nós pensávamos. continuamos a pensar tanta coisa… mas o que pode comparar-se a ser imortal? a ser para sempre, como seres que escapam às leis dos homens. ou dos deuses? bah… que se lixem os deuses. não me dizem mais do que o que sei. que é limitado, concerteza. os deuses mandam-me conformar à finitude. a não aspirar nada para sempre. mas eu sei. para sempre é só enquanto um pedaço de nós ainda se assemelhar às crianças. enquanto acreditarmos que o que amamos não morre.

segunda-feira, maio 25, 2009

o violoncelo



by Rainer Pawellek

vários são os sons do primeiro dia. a água que corre. a colher que bate na chávena. um leve miar do gato. o ruído indistinto de quem ainda se entrega ao sono. vindo de muito perto, o violoncelo. gemido dolente. um apelo. um grito que sobe na escala da angústia. até à queda na nota grave. o inaudível som do violoncelo amanhece dentro de mim. no início do primeiro dia.

sábado, maio 16, 2009

Escarpa


Ergue-se a escarpa no caminho da vida
sem retorno
sem escada
ou vereda que a aplane.
Só pela escalada no ar cristalino
se alcança a visão de novos caminhos
no horizonte escondido.


[O meu tempo para partilhar com todos vós é cada vez mais curto. Socorro-me de palavras antigas. Que todos façam bem a escalada das suas escarpas!]

sábado, maio 09, 2009

depois veio a chuva



foto by yein

depois veio a chuva. nesse dia a ternura era palpável na humidade da brisa. vertigem diluída na hesitação do ar perdido em mornos arrepios. como em todos os dias assim, acolheu a água que lhe escorria nos braços. riu-se da leveza dos pés molhados nas sandálias. e não pensou. entregou-se ao murmúrio dos sentidos. sons. cores. aromas. a terra molhada. o chamamento. simplesmente não pensou. dissera-lhe o tempo, muitos dias antes daquele, que a razão corrompe momentos perfeitos.

segunda-feira, maio 04, 2009

Doce Maio




Doce Maio de dias iluminados. Mês suave no nome que canta na língua, nas carícias do sol que desperta a pele ao toque. Maio é a afirmação de uma promessa que por vezes cintila em Abril. Maio quer-se feminino, fértil, grávido de esperança. Talvez não este Maio que, indiferente aos tropeços do mundo, se dá em flores, como sempre. Afirmação de que a vida aí está, apesar de… Então que floresça Maio, que cresça em plenitude. E que a vida se afirme em explosão, apesar de…