terça-feira, janeiro 24, 2012

Sonho sem tempo




Se a terra se imobilizasse eu saberia
Se hoje o movimento se invertesse
Soaria algures um alerta de estranheza
No caos informe do secreto pensamento
E o latejo do perigo nos músculos em defesa
Mas nada parece ter mudado desde ontem
Ou dos tempos em que os risos se soltavam
A terra não parou, o tempo não recuou
Os ventos falharam tempestades improváveis
Mas nos meus dias entrou uma espera atenta
Um sopro estranho um alarme sem razão
Aguardo um não sei quê de bom ou mau
Uma antiga história, um final sem princípio
Um sonho sem tempo tornado pesadelo

sexta-feira, janeiro 20, 2012

sons de um dia




Filomena ouvia o som daquele dia. Extravagante, talvez, aquela mania de ouvir cada dia de forma diferente. Não exactamente música, por vezes só ruído, murmúrio ou grito estridente. Aquele era um dia de sussurros que saíam dos cantos das paredes. Entravam nela como portadores de paz, misturados com suaves raios de sol. Deu-se a esse conforto sem reservas e deixou fugir os ruídos traumatizantes de dias anteriores. Lá viria o tempo em que voltariam. Filomena já tinha vivido dias suficientes para saber que nem o conforto interior nem a angústia duram sempre. Os sons dos seus dias poderiam ser já uma sinfonia que ainda não conseguira compor. Faltava-lhe a transição harmónica necessária para transformar ruídos desconexos em música fluente. Sobretudo, subsistiria sempre nela a dúvida de conseguir sentir a vida dessa forma. Que importava isso, afinal? Aquele era um dia de reconfortante suavidade. Por agora, era suficiente.