sexta-feira, junho 29, 2007

A porta




Quando fores embora
Deixa entreaberta a porta do quintal
Não tapes a entrada ao sol da madrugada
Deixa a luz da lua espalhar-se nas paredes
Como se de ti ficasse algum sinal.
Antes de partir
Guarda as palavras naquele cofre inventado
E vê se os risos se misturam com as histórias
Para que ecoe o som das gargalhadas
Presas algures num tempo passado.
E ao partir
Segue o caminho sem olhar para trás
Deixa aberta a porta do pátio onde morei
Por lá estará a linha do meu rosto
E a cor dos olhos que um dia te mostrei.

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Tenho que aqui tornar públicos mais dois agradecimentos: à Vity que deu a este blog o Fly Award e à Helena Nunes que o considerou um Blog com Grelos. Muito obrigada às duas.

terça-feira, junho 26, 2007

Da falsa doçura do ar




O ar até parece doce. Sem sabor da aragem marítima. Sei que o mar não virá hoje. Nem a brisa do monte. Nada que possa ser um sinal de harmonia. Os dias giram sem sentido ou propósito. Até que o vento vire. Até que o sol não queime. Até que o ar chegue saturado do sabor da maresia.

domingo, junho 24, 2007

Um ano por aqui…




Há um ano decidi partir de um porto muito seguro que me tinha abrigado. Tudo na vida é cíclico e tendemos a cansar-nos até dos locais que amamos e sobretudo da “formatação” que impomos a nós próprios. A minha rota trouxe-me até aqui, onde encontrei outros amigos, outros olhares, outras leituras daquilo que escrevo. A meio deste percurso, pela mão de dois amigos muito queridos, um dos quais infelizmente já nos deixou, descobri que podia fazer qualquer coisa com uma câmara fotográfica. Surgiram algumas fotos minhas e também a necessidade de fazer um outro blog mais simples, mais minimalista, sobre o que me preenche os dias através do olhar, do ouvir, do ler. Tem sido bom estar por aqui. Um prazer tranquilo de quem já conta cerca de três anos e meio de blogoesfera. Já não é uma alegria esfusiante, é o calmo desfrute do gosto pela escrita e por esta interacção que por aqui se estabelece.
Alguns amigos “antigos” encontraram o caminho. Para esses, o meu beijo especial, hoje. Para todos, muito obrigada por, durante este ano, terem passado, lido, comentado o que aqui fui deixando.



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Aproveito para agradecer ao moinante que me deu o prémio Cupido, Fonte do amor (hmmm...eu?), à Cris, ao diabinho e à Nadir que me nomearam uma das 7 Maravilhas da Blogoesfera (exagerados...) e à nomundodalua que nomeou este blog como um Blog com tomates (já tenho para a salada...). Sinceramente, a todos muito obrigada e desculpem não continuar as correntes. Quem quiser pegar nelas é bem vindo.

terça-feira, junho 19, 2007

Como se…




Um dia farei um hino à vida
Cantarão versos dentro das palavras
Nenhuma dor ecoará no espaço
Do poema.
Um dia direi que sou feliz
Sem reservas no som das entrelinhas
A cor no horizonte será o eterno
Azul.
Um dia o mundo acordará às avessas
Todos os poetas falarão de alegria
Como se essa fosse a verdade
Das coisas.

domingo, junho 17, 2007

Uma flor não é para sempre…




Caem flores no chão
geladas por um frio de abandono.
Na calçada o manto de cor desbota.
A luz do sol acarinha
o nascimento da beleza de outras flores.

quinta-feira, junho 14, 2007

Linhas paralelas




Linhas paralelas são as que, existindo no mesmo plano, nunca se intersectam. Diz-nos a geometria. Mas o olhar ensina-nos que se encontram num qualquer horizonte infinito.
Vivemos em linhas paralelas, fora de qualquer espaço geométrico. Atingindo o infinito contido em pedaços escassos de dias finitos.




Foto by .béhel.

segunda-feira, junho 11, 2007

A névoa




O dia era apenas um véu que escondia a luz forte da paisagem. Nem desejava outra coisa, sentindo nos olhos o ardor de tentar ver demais. Para lá dos limites do possível. Deixou-se diluir na névoa de não saber de si própria, de ignorar o que sentia. O vento do tempo passaria, limpando o horizonte. Levaria consigo aquela fina poeira de líquidos sentimentos. Que partissem, não os entendia! Queria ver claro, mas só quando a luz não lhe ferisse os sentidos. Algo dentro de si não estava preparado para a luz forte que a verdade projecta.



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A todos os que comentam o que lêem e não fomentam guerras nos espaços dos outros, peço desculpa pela moderação nos comentários. Assim que o problema que a motivou se resolver, tudo volta ao normal.

domingo, junho 10, 2007

Desafios

A brisa de palavras passou-me a batata quente (é mesmo assim que se chama o desafio) de divulgar aqui alguns livros que tenha lido. Agradeço-lhe ter-se lembrado de mim e vamos lá ver se não queimo as mãos…

Referências:

Os livros a que volto constantemente. Aqueles onde encontro sempre algo que responde às minhas interrogações. Haverá outros, mas saliento estes:

- Fernando Pessoa, todos, tudo.
- Sophia de Mello Breyner, Obra poética
- Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser
- Antoine de Saint Exupéry, O Príncipezinho

Livros que tenho entre mãos ou li recentemente:

- Al Berto, O Medo
- Isabel Ruth, Fotopoesia
- José Saramago, As pequenas memórias
- Mia Couto, Na berma de nenhuma estrada
- Ondjaki, O assobiador
- Ondjaki, Há prendisajens com o xão

De encontros muito gratificantes aqui na net:

- Antologia Poética Amante das Leituras
- Manuel Filipe, Tempo de cinzas

E como mandam as regras passo a batata quente a três bloguistas que, tenho a certeza, terão toda a facilidade em escolher, de entre os muitos que leram.

JPD, do Mel no Frasco
Herético, do Relógio de Pêndulo
Maria Carvalhosa, do Thornlessrose

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Também a JoaoJR me desafiou para a cadeia dos memes. Agradeço-lhe muito a lembrança e remeto a minha resposta para este post.

quarta-feira, junho 06, 2007

As cores da vida




O calendário à minha frente separa os meses por cores. Janeiro é de um azul quase metálico, gelado. E as cores vão-se tornando progressivamente mais quentes, até que, atravessando os arroxeados do Outono, atinjo um outro azul mais profundo, mais aconchegante, o de Dezembro. Detenho-me em Março, o meu mês, já a sair dos azuis para o verde e Abril verde de esperança.
Junho é verde-amarelo-mostarda. Cor estranha a abrir a paleta dos meses quentes. Uma mistura de Primavera e Verão, com dias longos de claridade. Em breve o Verão se instalará e os dias passarão a laranja avermelhado. Ou mesmo vermelho. No calendário, o vermelho não existe. Politicamente (in)correcto? Fico a olhar um laranja-castanho que não me lembra muito os dias escaldantes dos últimos verões.
Caminhamos para o solstício, tendo cumprido meio ano deste calendário inventado que nos rege. O tempo é um contínuo. Ou uma sucessão de ciclos. Neles percorremos todas as cores da paleta da vida. Sem nenhum calendário previamente organizado.

sábado, junho 02, 2007

Silêncio nos degraus da escada




Nos degraus da escada que hoje não subiste
Escuto o silêncio
Traz no ventre o presságio de dias convexos
De armadas defesas contra a fúria dos ventos
Hoje estou aqui
No cimo do mirante da vida
Ouvindo só zunir sibilante o eco
Do silêncio
Abana o vento as folhas do tempo
E nem um som se ouvirá
Nem o canto do pássaro na margem do dia
Nem o grito que sobe do mar
Espero no silêncio da escada de pedra
Que o som dos teus passos o venha quebrar.


Foto by Ja Fox