quarta-feira, dezembro 29, 2010

Apesar de tudo

Apesar de tudo... Da crise, do desânimo, das perspectivas que parecem piorar dia a dia, da pobreza que alastra... Apesar de tudo ou porque é mais necessário agora, desejo a quem aqui passar um 2011 de esperança. Vamos iniciá-lo de cabeça levantada. Olhando bem em frente para um futuro que desejamos melhor, embora conscientes do longo caminho para lá chegar.

Bom Ano para todos!

quinta-feira, dezembro 23, 2010

Katie Melua - Have Yourself a Merry Little Christmas



Bom Natal a todos os que por aqui passarem!

terça-feira, dezembro 07, 2010

espelho


quem me olha no espelho
tem na sombra velada do sorriso
o disfarce inábil de marcas antigas
o olhar em que o brilho se esconde
renega a identidade equívoca do rosto
a imagem muda nas margens do tempo
outros espelhos mentem de outra forma
com a convicção dos amantes infiéis

sexta-feira, novembro 12, 2010

A esperança eterna da paz

by J. Pedro Martins


De que valem dores angústias
Negras tempestades momento a momento
Não escorre sangue da terra
Nem choram as árvores no silvo do vento

São nossas as frágeis mágoas
Que não alteram a indiferença do deserto
Mas a esperança eterna da paz
Só em nós reside, algures neste todo incerto

sábado, novembro 06, 2010

por vezes...


by Virginia Ateh
por vezes o dia amanhece lúcido
no colo da dor que se esconde
talvez apenas a urgência de fugir
para uma luz improvável
cálida alegria e íntimo fulgor
em mim a paz sem laços desfeitos
simples quietude do dia que nasce.

terça-feira, novembro 02, 2010

Adeus, Van Gogh


Não chegaste a fazer 17 anos. Adolescência na raça humana... Sei que a idade dos gatos se mede por outros calendários. Mas como se diz adeus a um companheiro de quase 17 anos?
Escolheste-me entre as pessoas da casa, talvez porque eramos parecidos: esquivos, desconfiados, agressivos por vezes e meigos até ao limite para as pessoas em quem acreditamos. Hoje só posso esperar que a tua vida entre nós tenha tido o amor e o conforto a que todos temos direito. E que descanses em paz, finalmente, após este terrível período de doença. Sentiremos, todos, a tua falta.

quinta-feira, outubro 28, 2010

pela essência



by Bruno Abreu

sei-te não pelos dias mas pelo sorriso
essa curvatura íntima dos lábios
tímidos trocistas no limite da húmida sede
sei-te não pelo tempo mas pelos olhos
jovens pássaros atrevidos na bruma da ternura
caminhantes sem rumo nas rugas do rosto
sei-te pela essência que procurei tocar
adivinhando momentos espalhados no tempo
pelos muitos dias de hoje
e eternas esperanças de amanhã.

domingo, outubro 24, 2010

abismos


by João Miguel Figueiredo

o dia acordou desorientado Filomena pensou no que já tinha perdido e agora voltava talvez naquela manhã lhe apetecesse envolver-se na bruma leve para lá da janela perguntava-se o que significava tudo aquilo a indiferença e as declarações dementes de quem parecia viver num labirinto mais complexo que o seu afinal agora quase já só olhava para trás por não querer prever o que a esperava ou aos outros um dia em que as mãos dela já não os alcançassem e o mundo já não fosse palpável os abismos sempre a tinham atraído não sabia como tinha conseguido fugir de alguns sem danos de maior isto era uma forma de dizer porque as feridas saram mas deixam cicatrizes e em manhãs como aquela doem de tal forma que tudo parece voltar ninguém quer reviver uma queda no abismo Filomena olhou a janela e viu que a bruma se afastava talvez aquele pequeno sol se mantivesse e pudesse olhar em frente até à curva da estrada sacudiu o manto de lembranças e saiu.

quinta-feira, outubro 21, 2010

puzzle


se existisses, saberias sem que te dissesse que hoje a vida é um puzzle cujas peças não encaixam. pedaços sem nexo chegam perto como se fosse possível agarrá-los, construir uma forma, um sentido. veio até mim um desses bocados de vida, viajante incerto de um tempo antigo. paira no ar, tentando fazer parte do puzzle. hesito estender a mão para sentir a sua realidade. sei que é frágil e em breve (se) partirá. pleno de difíceis contornos para construir uma imagem clara. o que consigo é algo deformado, irreal. breve, breve, tudo se distorce e corto a pele nas arestas restantes.
na verdade, não existes, aí no centro dos dias de puzzles e labirintos. pinto a imagem esquecendo as peças. em certos dias há que optar por soluções simples.

domingo, outubro 17, 2010

terra queimada

tantas são as sementeiras como as colheitas falhadas. em chão gretado, plantas secas que qualquer chama incendeia. feridas expostas, impudicas, na terra queimada em plena luz. escondem a vida, fundo segredo silencioso que aguarda o bálsamo improvável da chuva.

terça-feira, outubro 12, 2010

hoje não


by Slava Beilin

hoje não amor
os tons da terra mudam cada dia
nada permanece neste outono de incerteza
por isso hoje não
não fales do que não posso entender
há trilhos sem fim visível
labirintos sem fio que me guie
hoje não sim talvez
...e o medo
infinito arrepio de me perder

sexta-feira, outubro 08, 2010

Com chuva...


by Daniel Camacho

Com chuva abrande a velocidade. Um sensato slogan na estrada que dificilmente se vê, tal a cortina de água. Na verdade, com chuva tudo em mim abranda. Porque não a velocidade ? Enrolo-me, casulo envolto em silêncio molhado. Todos os ritmos são lentos, o sangue não aquece e cada movimento custa. A essência de mim está longínqua, num trilho sem destino. Devia ser como a terra que parece rejubilar. Agora já não sou terra, nem água, nem fogo. Não sinto. A chuva lava. E leva com ela toda a reacção possível. Positiva ou negativa. Dentro do casulo, sou neutra. Fria.
Um dia deixará de chover. Talvez o casulo abra e tudo volte ao normal. Aguardo, com a extrema lentidão das larvas, esperando transfiguração.

segunda-feira, setembro 27, 2010

Terra, poiso, ninho

Lembrava-se por vezes do pássaro multicolor e, quanto a essa época da sua vida, muitas eram as interrogações. Não sabia já razões de chegada ou partida. O facto é que voara sobre ela e lhe deixara farrapos de cor e marcas indeléveis. Desse tempo, as memórias começavam a desvanecer-se mas o eco que restava do canto da ave levava-a aos dias em que lhe era poiso, ninho de repouso. Via-o voltar ao voo sem ressentimentos. Talvez as cores precisassem de se espalhar para terem o brilho original. Até que foi a era da partida, sem volta anunciada. Assim como chegara, voou para longe. Deixando-lhe todas as interrogações.
Todos os sentidos lhe diziam que, num tempo que já não sabia precisar, os seus olhos só viram cinza. Como se quisesse reter a sombra das asas do pássaro. Mas, como tudo o que tem que acontecer, outras cores foram reaparecendo. A vida coloriu-se em tons de melancolia longínqua com ligeiras aparições de outros brilhos. Só a música não voltou. Escutava, de olhos cerrados, os ecos distantes. Reconhecia-o, por vezes. Afastava o desejo de ser terra, poiso, ninho. Seguia o trilho contrário, aquele onde os penhascos não reflectiam cores e sons e não existiam pássaros multicolores.

quarta-feira, setembro 22, 2010

Outono

by Gonçalo de Sousa Santos

tempo de Outono. um imprevisível vento indeciso surge entre a luz de verão. partilhamos a vida entre dias pálidos e carícias avaras de sol inconstante. pequenas gotas de água acariciam a pele, mais do que molham. esperamos os dias em que as folhas verdes se deixam cair em cores quentes, tranquilas. só depois virão as tempestades. fazemos, passo a passo, o caminho do Inverno.

domingo, setembro 19, 2010

Nunca?


by ...............

Nunca. Sempre. Não dizia aquelas palavras. Não as pensava. Não as adoptava como suas. Pediram-lhe que dissesse “sempre”, ou que prometesse um qualquer “nunca”. Contornara a questão. Nada era para sempre, não existe a certeza de um nunca. Talvez por isso lhe chamavam esquiva, fechada em si como as ilhas rodeadas de bruma.
Esperava ser possível romper o bloqueio dessas palavras. Um dia sentiu que era possível dizer sempre , na situação mais improvável.. Disse-o com a mesma certeza com que se tinha negado a fazê-lo até aí. Sempre, apesar de todas as circunstâncias. Soou-lhe bem e ultrapassou dolorosos obstáculos porque assim tinha que ser. Sempre.
A lógica da vida mostrou-lhe que não há excepções às regras que sabia serem certas. Foi tão fácil desfazer aquele "sempre"... O único que tinha dito. Alguém soprou o sonho contido nele e, tal como uma bola de sabão, simplesmente desapareceu. O mundo voltou ao que não devia ter deixado de ser. Nunca.

quarta-feira, setembro 08, 2010

Um ponto, um porto


By Gennadi Blohin

São pequenos os passos, amarrados a um peso incerto. Existe um centro de gravidade, um ponto de equilíbrio. Perdido no horizonte rugoso e denso. Sem referências, o passo perdeu a leveza do voo. Arrasta-se, ave de asa partida. Até que algo se aplane, transpareça e se ilumine. Um ponto, um porto. Uma luz de alma. Um pequeno vórtice de alegria.

sexta-feira, setembro 03, 2010

O rio de marés


Tavira, rio Gilão


Agora que o Tejo é o rio que me preenche o olhar, já me falta o outro rio. Aquele rio de marés que sempre me emociona, no seu movimento suave. Enche e despeja devagar como se respirasse. Reflecte a cor dos barcos e o sabor do sal e do peixe que o percorre. É um rio e o seu fim, o seu abraço interminável com o mar.
Sobre o rio os homens construíram pontes. Em cada uma, a visão da cidade branca traz novidade, aquele detalhe ainda não observado. O dia é um jogo de gradações de luz, a noite é pura magia, uma brincadeira de namoro com a cidade iluminada.
Há muitos anos, conto tristezas e alegrias a este rio. De alguma forma, as águas tudo misturam no seu destino final. De alguma outra forma, sinto-me mais leve na certeza de compartilhar vivências com um amigo.
Agora que voltei da cidade, da ilha, trago o desejo das águas daquele rio e a certeza de que foi o destino de férias certo. Ali onde a vida se cria e se colhe, onde se faz magia do que o mar traz, ali onde o rio fala comigo enquanto as águas se renovam constantemente.

segunda-feira, agosto 30, 2010

Que fazer com este grito?


Frida Khalo, "As duas Frida"

Sente que deve ser um grito. Rouco, fundo, carregando consigo todo o silêncio guardado. Mas da garganta seca nem um som se faz ouvir e o esgar do rosto quase parece um sorriso. Uma mordaça invisível impede palavras, gestos e, mais que tudo, aquele grito que lhe sobe à boca quando tudo à sua volta louva a vida.

Aterroriza-a o passar dos dias porque o grito perde urgência, aninha-se como memória longínqua. De repente, numa qualquer manhã, sente no corpo suado a dor que do fundo da garganta lhe invade o sangue e a aperta sem dó.

Um dia tudo desaparecerá e o grito ficará bem no fundo, enterrado em camadas de lembranças velhas que só se tornam conscientes quando a angústia o impõe. Até lá, aperfeiçoa as máscaras que escondem a mordaça e que escolhe cuidadosamente em cada dia.

sexta-feira, agosto 06, 2010

abrigos destruídos

Já secaram os oásis
deste lado do deserto
até o gelo arde em brasa
labareda em noite escura
queimadura à flor da pele
calcinando as madrugadas.

Flor caída em solo árido
na margem de ocultos rios
porquê procurar a sombra
dos abrigos destruídos?

domingo, julho 25, 2010

Apanhando girassóis


Vou apanhando girassóis. Um de cada vez em movimentos de câmara lenta. Guardo assim o tempo de só olhar o dourado da flor. E o milagre do pólen transportado por seres alados. Esqueço a terra sob os pés e a lembrança da lama no chão gretado. Quero levar comigo a cor do sol em forma de flor. Ou talvez hoje eu queira apenas ser um girassol. Num lento movimento seguindo a luz até que a noite me cerre as pétalas.

sábado, julho 17, 2010

Nesse dia

by silviafonso

Não foi nesse dia
Em que as palavras me deixaram nua
Entre farrapos de um cobertor rasgado
Que morri na tua pele
Ainda tenho nos pedaços da memória
O verso em que envolvi a negação da ausência
Apenas um início de poema esboço de palavra
Fio de água incompleto em urgência de mar.
Nesse dia chegou no vento agreste
O poder de palavras mil vezes repetidas
O sabor da terra espalhada na maré
Neles aninhei o trémulo corpo nu
E decidi não morrer na tua pele

domingo, julho 11, 2010

In Identidade

Nunca direi de mim mais do que quero
Envolta no labirinto sem margens ou saída
Sou eu e muitas outras
Tocaram-te nas palavras e mãos estendidas
Mas os olhos eram meus e não os viste
Como dizer-me por parte de mim
Se as muitas que sou só os olhos unem?

sábado, julho 10, 2010

Una musica brutal



Gotan Project, dia 18/07, em Oeiras. Venham vê-los| Bom fim de semana.

man at the mirror


by James Croak

O homem olhava o espelho. Rara nele, aquela contemplação. Não gostava do passar dos anos, ali visível. Naquele dia procurava a visão interior, o seu verdadeiro querer. Existia a realidade e o apelo sempre novo do que o levava mais longe. Pensou em como o chamava, a partida, a descoberta. O seguir em frente, abrindo asas, pairando sobre trilhos desconhecidos. Ele, só, ainda que em direcção à fantasia que o esperava. Empolgou-se perante a ideia. Mas logo um arrepio lhe trespassou o corpo, por entre o sol de verão que a janela deixava entrar. Os pilares do mundo construído não estariam lá, se voltasse. Construiria outros, talvez. Tecidos de poesia, rendilhados em emoções. Mas o arrepio persistia. Das pequenas pontes lançadas por aqui e por ali, o homem não se lembrou. Frágeis, tão frágeis… todas elas levantadas para uma qualquer finalidade de que já nem se lembrava. Essas ruiriam, claro. Não, dessas não se lembrou. Só as pisava quando por acaso o caminho para pequenas ilusões por ali passava.
Mas agora o homem pensava na grande ilusão. Precisava saber se a queria real. Esperava que o espelho lhe dissesse. Talvez tivesse que passar para o outro lado, como a menina do conto. Nesse dia o homem não gozou o sol, faltou a todas as obrigações de um dia. Um dia na vida, ao menos. Tentou, sem conseguir, livrar-se daquele arrepio. Imóvel, expectante, esperou, por um dia, a resposta do espelho.

quinta-feira, julho 01, 2010

tudo muda

como poderia não saber os atalhos onde rasgo as mãos frágeis como se a alma migrasse até à pele dos dedos? são caminhos que aprendi desde os tempos que não lembro, apenas por não querer. amnésia voluntária ou fuga da amargura que me tornaria demasiado atenta às cores silenciosas que trazem augúrios de escuridão. por isso, fujo dos atalhos conhecidos e tomo os caminhos planos. oiço as cores do sol, sabendo que o som é só um embuste. espero. tudo muda na terra dos homens. talvez um dia a melodia que cantam os raios de luz seja verdadeira música.

terça-feira, junho 22, 2010

Para ser outra


Nos dias em que me imaginam outra, talvez uma flor sem mérito, uma coisa pequena apanhada num chão de terra, me aplanasse o caminho para ser outra. Ou até um sonho, uma fantasia sem brilho, uma magia de circo barato. Seriam muitas as dádivas para essa ideia de ser alguém que por vezes sou, quando não preciso de fingir identidades. Dádivas rasas, humildes. Não preciso de grandiosidade para ser quem sou, ou finjo ser ou apenas aquela que procuro nos olhos que imagino espelho.

segunda-feira, junho 14, 2010

muito de leve

quero partir hoje
sem que os caminhos sintam passos
sobre as pedras paradas
sem um choro de pássaro
não haverá rasto dos pés
nas ervas húmidas da chuva de ontem
quero ir assim muito de leve
muito sem som, sem dó
sem que nada dentro de ti
o anuncie.

domingo, fevereiro 14, 2010

a maior injustiça


by donnie mackay

é verão ou talvez natal. as memórias que tenho de ti são tantas que se confundem. és o menino de caracóis cor de noite ou a homem que quer entender o que há de novo no mundo. tanto te vejo no mar da minha ilha de sonho como na casa dos encontros, das refeições em conjunto e dos jogos de cartas. num segundo és o menino que abre as prendas de natal logo te tornas no revoltado com todas as injustiças. a maior foi a que a vida reservou para ti e te ofereceu sem que nenhum de nós quisesse vê-la chegar. os teus caracóis desvaneceram-se em nada e ainda os sinto na carícia da mão naquela cama de hospital. tiveste frio e tentei abrigar-te mas havia demasiados tubos, demasiada tecnologia a tentar puxar-te para o lado de cá. parte de ti já se preparava para a partida. não houve forças nem afectos nem lembranças dos dias de sol da infância que te prendessem. depois de tudo, é irónico que a terra continue a girar e nós com ela. estarás por aqui, porque continuo a ouvir a tua voz e a ver o teu rosto ao meu lado na cadeira agora vazia. para lá do desgosto, para lá da dor física da ausência, preciso acreditar que fazes parte desse movimento cósmico. para que a morte faça algum sentido na fluir da vida.



[Para o Pedro que partiu muito cedo e nos deixou sem consolo, neste girar do mundo ]

sábado, janeiro 30, 2010

a vida, por tortuosas vias

cegos de não querer ver caminhamos no silêncio da casa pesado de augúrios. só os ponteiros do relógio se ouvem. o tempo, a espera. tacteamos os momentos e os risos de ontem. tentamos senti-los reais e palpáveis, possíveis de reviver. sem certezas, já sem espantos nem súplicas. esperamos apenas. um toque, uma voz. uma decisão de vida ou morte. quando a vida se afirma por tortuosas vias, nem o esgar dos lábios disfarça o que morreu. dentro de nós, no fundo dos olhos que se vão abrindo.

domingo, janeiro 10, 2010

gelo

by Harrier

gelada a extremidade dos dedos que não traça caminhos de fogo nem cria o desenho poético da palavra. cada gota de água penetra a terra, funde-se na lama dos sentidos. sem mais redenção o poema prende-se em estalactites de frio, pérola imóvel e sólida que nenhum rio acolherá. assim, como ninfa em casulo, o corpo é sangue e os dedos músculos que se alongam na procura do degelo.

domingo, janeiro 03, 2010

o cinza do terceiro dia

by Ruip
os vidros turvam-se quase líquidos sem cor outra que o cinza. a chuva ensopa os restos que jazem nas ruas indícios de festas que já foram. espalha pela cidade o cheiro ambíguo da purificação. limpos de ilusões entramos no terceiro dia do novo ciclo cientes da semelhança do cinza com o que já conhecemos. afirma-se em nós a eterna interrogação da origem colorida da esperança.