domingo, julho 25, 2010

Apanhando girassóis


Vou apanhando girassóis. Um de cada vez em movimentos de câmara lenta. Guardo assim o tempo de só olhar o dourado da flor. E o milagre do pólen transportado por seres alados. Esqueço a terra sob os pés e a lembrança da lama no chão gretado. Quero levar comigo a cor do sol em forma de flor. Ou talvez hoje eu queira apenas ser um girassol. Num lento movimento seguindo a luz até que a noite me cerre as pétalas.

sábado, julho 17, 2010

Nesse dia

by silviafonso

Não foi nesse dia
Em que as palavras me deixaram nua
Entre farrapos de um cobertor rasgado
Que morri na tua pele
Ainda tenho nos pedaços da memória
O verso em que envolvi a negação da ausência
Apenas um início de poema esboço de palavra
Fio de água incompleto em urgência de mar.
Nesse dia chegou no vento agreste
O poder de palavras mil vezes repetidas
O sabor da terra espalhada na maré
Neles aninhei o trémulo corpo nu
E decidi não morrer na tua pele

domingo, julho 11, 2010

In Identidade

Nunca direi de mim mais do que quero
Envolta no labirinto sem margens ou saída
Sou eu e muitas outras
Tocaram-te nas palavras e mãos estendidas
Mas os olhos eram meus e não os viste
Como dizer-me por parte de mim
Se as muitas que sou só os olhos unem?

sábado, julho 10, 2010

Una musica brutal



Gotan Project, dia 18/07, em Oeiras. Venham vê-los| Bom fim de semana.

man at the mirror


by James Croak

O homem olhava o espelho. Rara nele, aquela contemplação. Não gostava do passar dos anos, ali visível. Naquele dia procurava a visão interior, o seu verdadeiro querer. Existia a realidade e o apelo sempre novo do que o levava mais longe. Pensou em como o chamava, a partida, a descoberta. O seguir em frente, abrindo asas, pairando sobre trilhos desconhecidos. Ele, só, ainda que em direcção à fantasia que o esperava. Empolgou-se perante a ideia. Mas logo um arrepio lhe trespassou o corpo, por entre o sol de verão que a janela deixava entrar. Os pilares do mundo construído não estariam lá, se voltasse. Construiria outros, talvez. Tecidos de poesia, rendilhados em emoções. Mas o arrepio persistia. Das pequenas pontes lançadas por aqui e por ali, o homem não se lembrou. Frágeis, tão frágeis… todas elas levantadas para uma qualquer finalidade de que já nem se lembrava. Essas ruiriam, claro. Não, dessas não se lembrou. Só as pisava quando por acaso o caminho para pequenas ilusões por ali passava.
Mas agora o homem pensava na grande ilusão. Precisava saber se a queria real. Esperava que o espelho lhe dissesse. Talvez tivesse que passar para o outro lado, como a menina do conto. Nesse dia o homem não gozou o sol, faltou a todas as obrigações de um dia. Um dia na vida, ao menos. Tentou, sem conseguir, livrar-se daquele arrepio. Imóvel, expectante, esperou, por um dia, a resposta do espelho.

quinta-feira, julho 01, 2010

tudo muda

como poderia não saber os atalhos onde rasgo as mãos frágeis como se a alma migrasse até à pele dos dedos? são caminhos que aprendi desde os tempos que não lembro, apenas por não querer. amnésia voluntária ou fuga da amargura que me tornaria demasiado atenta às cores silenciosas que trazem augúrios de escuridão. por isso, fujo dos atalhos conhecidos e tomo os caminhos planos. oiço as cores do sol, sabendo que o som é só um embuste. espero. tudo muda na terra dos homens. talvez um dia a melodia que cantam os raios de luz seja verdadeira música.