terça-feira, outubro 30, 2007

Folhas douradas




Não há dourado
Como o das folhas secas
Na margem da vida
Sol já vivido de dias inteiros
Futuro de alegrias verdes
Doces de mel nas mãos do passado.
Belos são os tons das tardes que tombam
Cedo
Sobre um mar de azul saturado
Onde as sombras marcam as rugas das ondas.
Vejo olhos brilhantes na espuma que bate
Em rochas de outrora
Como os sonhos que lentamente
Se espreguiçam na doçura do poente
Sabendo que em breve partirão
Levando-nos com eles nos barcos inventados
De onde não há regresso.
As tardes são cada vez mais curtas
E os caminhos feitos para os nossos pés
Têm longos tapetes de folhas de Outono
Douradas.


[Volto para a semana. A quem puder, desejo umas boas mini-férias.]

domingo, outubro 28, 2007

Hoje




Hoje queria um dia feito de horas de oferecer. Porque há dias diferentes. Dias especiais em que queremos encomendar o sol, a luz do horizonte, a doçura do ar. Tudo feito por medida, ao jeito de quem o irá desfrutar. Queria oferecer um dia hoje. Um dia perfeito. Embrulhado em momentos guardados. Talvez com uma fita cor de certeza calma, e um laço pleno de voltas cúmplices. Só um dia. Dado assim, porque hoje é dia de dar só um pouquinho mais.

quinta-feira, outubro 25, 2007

o vazio




da dádiva de mim trago
a certeza funda e calma
digo-te
só o amor preenche
o lugar vazio da alma.

Setembro 2005



o vazio. como um buraco no peito. um bocado que de lá foi tirado. não dói. é a um tempo suave e amargo. mas não dói. infiltra-se em nós e fica no ar. como algo que devia estar e não está. arrepia-se a pele ao de leve. encolhemo-nos um pouco para guardar o calor de um qualquer momento que em nós ficou. lentamente, o vazio vai sendo preenchido pela rotina das horas. o frio desaparece e deixamos que o conforto nos envolva. até que, vindos do nada, surgem aqueles momentos em que o vazio fala outra vez. baixo. murmura. queremos enxotá-lo como uma mosca incómoda. deixa-se ir. como tudo o que tem a certeza de voltar. quando menos esperamos.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Outro poema de Outono




um dia vem o outono falsamente sedutor
embala-nos em tons de terra mãe
em luzes veladas que não ferem
os olhos já cansados do Verão
a ele nos entregamos sem pudor
esperando renovar tranquilo da alma
pelo bálsamo das águas que caem

um dia vem o outono
em ramos de árvores penduramos sonhos
a letargia dos dias cerra-nos os olhos
talvez não acabe
podem não vir tempestades
será para sempre a luz dourada…

um dia parte o outono
sem que um aviso toque o sono terno
e temos a surpresa de acordar
na plena inclemência do Inverno

quarta-feira, outubro 17, 2007

Tanto...




Tanto. Ou tão pouco. Não se quantifica. Qualifica. Ou nomeia. Por aqui caminhamos. Sem conhecer o caminho. Talvez à deriva. Talvez bem presos ao chão. Lavamo-nos no rio de que não sabemos o caudal. Colhemos os frutos das árvores sem nome. E sentimos que é tanto… Ou tão pouco.

domingo, outubro 14, 2007

Incerteza




Entre o dito
e o que falta
há o espaço
da incerteza.
O caminho
inseguro
interdito
o meu trilho
de tristeza.
Passos dados
pela margem
desse leito
de ternura
onde me deito.
E o que falta
no já dito
é o caudal
que corre frio
no meu peito.

Escrito em Dezembro 2005. Mas curiosamente actual.

quarta-feira, outubro 10, 2007

A hora da água




A minha hora é a da água. Líquida, solta em pequenos regatos ou caudalosos leitos. Por nascimento. Sou água de Março (saúdo-te Elis!). Respiro na hora do ar, aquela em que tudo se revela límpido e claro. Ardo nas horas de fogo em que em que a paixão se revela essencial à vida. E misturo-me com a terra quando é tempo de procurar a força que nela se contém. Mas vivo nos líquidos sentimentos que molham corpo e alma. Na fúria de escavar o caminho ou na doce calmaria dos territórios a que chamo meus. E procuro o azul infinito. O do mar. Definitivo. Vivo na hora da água.

domingo, outubro 07, 2007

Entre a alma e o corpo




Fecho a janela do pátio inventado
Preciso ficar no escuro agora
Por entre as coisas que guardam o silêncio
Ásperas ao tacto
Nos dedos só resta a memória
Do que ainda viaja entre a alma e o corpo
Habituo os olhos à ausência de miragens
Para me iluminar de realidade
Assim será o recuar da escuridão
Sem arco-íris
Luz velada de dias quietos

quinta-feira, outubro 04, 2007

a (re)invenção da linguagem




... e chega um tempo em que procuramos as palavras certas. as que não digam demais. as que não prolonguem a distância. reinventamos a linguagem, como se fosse possível dizer o mesmo, sem o dizer. tacteamos reacções a cada frase sem conseguir adivinhar quais são os termos proibidos. nessa incerteza de palavras erradas, não atingimos a comunicação. vagueamos entre ideias e a sua expressão. sem que o que dizemos seja o que queremos dizer. talvez os códigos desta linguagem reinventada venham a ser perceptíveis para quem os escuta. pela necessidade de um novo entendimento.




Foto by B Berenika

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Hoje, lá no outro lado, há um bocado de vaidade...