
"Nos teus olhos translúcidos
ainda passam sombras
que a ternura afasta lentamente
(…)
Não sentes o mar, as neblinas
o castanho doirado das folhas
com laivos de agonia?
Vem, é outono"
José Carlos Teixeira, in O Voo Interdito para o SolO sol arde mas sinto algures a brisa do Outono. Talvez porque o esplendor das cores já começa a transformar a paisagem em tela de algum pintor desconhecido. Talvez porque os dias já perdem a luz mais cedo, dando ao crepúsculo toda a magia que a crua claridade do Verão lhe nega. Talvez porque os ciclos da vida recomeçam, após o breve intervalo que a ilusão das férias carrega consigo.
Nem sempre foi Outono. Mesmo quando as folhas castanho-avermelhadas tingiam as árvores para depois amarelarem e acabarem pisadas no chão. Lembro-me que não era Outono, apesar do vermelho se ir ausentando dos poentes e da frescura da brisa nos arrepiar os braços. Era um tempo suave, um tempo mágico. Não era a antecâmara do Inverno.
Hoje sei que em breve será Outono, o Inverno chegará a seu tempo. A natureza prepara-se para, também ela, iniciar o seu ciclo de renovação. Os dias ardentes darão lugar à frescura pela qual o corpo já anseia, num tempo em que os nossos olhos se prendem na doçura dos ocasos, antes que o vento se torne agreste e nos faça recolher no nosso casulo. Invoco o sol para que o pó doirado da magia se espalhe no ar e faça durar os dias ternos que nos afagam o corpo.
Foto by Marcin Klepacki