agora não me largues a mão. caio em espiral por todos os dias pintados numa cinzenta cortina de água. vórtice sem fim. a chuva da infância deixava poças nos campos. obrigava às galochas de borracha . e à raiva de ter que as usar. lembras-te? não, tu não estavas lá e nem sei se usaste galochas de borracha. e, se me lembro bem, também não estavas quando a água caía gelada e em mim já havia um calor púbere. ou serias tu com outro rosto. jovem, jovem, como se pode ser tão jovem? alguma vez foste tão jovem? e o vórtice que me arrasta. pequenos guarda-chuva, pequenas galochas com bonecos, beijos e sorrisos. também não eras tu. nunca foste ou foste sempre? agora já deixo que o vórtice me leve. não quero parar. ou talvez sim. algures em frente ao mar. lá fora a cortina de água adensa-se em tempestade. e nós isolados. nós? não tu. ficaríamos ali e um dia alguém nos encontraria. sonhos, sonhos. alguma vez sonhaste assim? deixo que a espiral me puxe para mais próximo do momento em que começou a ser o teu rosto. as múltiplas faces de ti. e a chuva em dias de natal próximo. com cânticos dos pedintes para lá da janela. e nós, finalmente nós. estou a chegar. sei que a espiral da memória me vai atirar para aqui onde a água bate nos vidros. agora não me largues a mão. de ti já vi todos os rostos escondidos por trás do véu de água.
domingo, novembro 30, 2008
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27 comentários:
do infinito de um olhar.
Os rostos escondidos esbatem-se nos véus infinitos de água como correntes grossas e salgadas.
Bjs Zita
Tão maravilhosas as tuas palavras!! Fiquei absorvendo-as uma a uma. Beijos.
Belíssimo véu de tempo.
um beijo
Especial este teu falar do vórtice humano.
Empolgante texto, VdV! Fui arrastada pelo vórtice das palavras sábias, até uns salpicos de chuva e de memórias chegaram até mim...
um texto atraente e bem escrito...ótima qualidade... Gostamos daqui!!
Abraço!!
saudade,
tristeza,
amor,
desejo,
entrega.
que belo(s) vótice(s)!
Obrigado
Vicente
vórtice... véu...
Lindo, adoro suas palavras, me prendem neste blog!
Um cheirinho!
"agora não me largues a mão. de ti já vi todos os rostos escondidos por trás do véu de água..."
belíssimo.rostos decifrados no tactear dos dedos...
grato.
beijos
...
fico assim sem palavras,
imersa
em espiral.
Muito bem escrito, muito esbelto, este texto poético.
Um abraço
Olá, de novo!
É só para dizer que já está marcado o lançamento de "Itinerário".
É no dia 13 de Dezembro, pelas 21 horas, no Auditório do Campo Grande, nº 56.
Falará sobre o livro e a obra do autor o poeta José Félix.
Brevemente, farei uma postagem sobre o tema.
Os meus cumprimentos
Imperiosoa este olhar que esconde por detras de mil veus a essencia do sentir!
Beijo terno
alguma vez sonhaste assim?
depois de te ler fiquei na incerteza.
simplesmente amei!
um bjo
Cara amiga, gostei imenso do teu texto.
Boa prosa e plena de belas imagens, muitas delas bem poéticas.
Beijinhos.
Uau...
Perdi-me no tempo das palavras indo em tempo ao tempo de muitas memórias...
Belissimo
Um beijo Grande!
(*)
Parece o chegar do fim da vida!
me lembrou aquela letra do marcelo camelo:
"não solta da minha mão..."
lindo texto :)
beijos.
(...)deixo que a espiral me puxe para mais próximo do momento em que começou a ser o teu rosto. as múltiplas faces de ti. e a chuva em dias de natal próximo. com cânticos dos pedintes para lá da janela. e nós, finalmente nós. estou a chegar. sei que a espiral da memória me vai atirar para aqui onde a água bate nos vidros. agora não me largues a mão. de ti já vi todos os rostos escondidos por trás do véu de água.
Lindo, como só tu o sabes escrever...os teus posts tem a particularidade de baterem bem forte em mim...obrigada por isso...
Jinhos mil
Não me largues a mão ... pelo tempo que passou , pelo tempo que há-de vir...
Beijito.
Fiquei sem palavras. Gostei imenso do que li aqui!! Um beijo
Apetecem todas as gotas de água que nos aconchegam do lado de dentro do vidro.
É um prazer ler-te.
Beijo
só quem ja assim viu, assim escreve
em espiral
enigmáticos alguns dos teus textos ...enigmas que ficam docemente submersos pelos rostos que já viste por detrás dos veús de chuva ou de qualquer outra doçura apontada sem indicador. Muito rico em receios e coragens que não revelam - a chuva podia ser responsável por esta melancolia mas cho que és tu a brincar ao esconde-esconde com os teus fantasmas
Poesia das águas tormentosas. A hidráulica em versos raros. Ótimo trabalho, inclusive a ilustração.
Um beijo!
Olá VV
Que texto tão lindo. Acabei de ler um poema maravilhoso nop blogue do Herético e agora tu...
Não eras tu...nunca foste ou foste sempre?
Se me largou a mão é porque não era ele...
...mas foi sempre ele aqui dentro, lá fora, onde quer que estivesse...
e peço-lhe mais uma vez, não me largues a mão...
O texto está espectacular!
Stella
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