by Dominique Dupont & Christian Duprez
Ana olhava o mundo através do vidro sujo da janela. Aquele que conhecia, pelo menos. Existiam outros mundos, diferentes. Isso tinha-lhe dito o homem de olhos cor de mel, no tempo em que as mãos dela faziam ninho nas dele. Tinha-lhe dado um relance, um olhar distante sobre esses mundos. Depois partira. Ou, na verdade, não. Um silêncio gritante viera preencher o espaço entre eles. Ana deixara-o partir, devagar, despedindo-se um pouco em cada dia. E, nesse tempo, não olhou para o vulto dele, afastando-se. Nesse tempo julgava saber muito, quase tudo. Alcançaria esses mundos, sem ele. Ou viveria feliz no seu. Sem dependências, sem frustrações. Ana julgava saber quase tudo… Depois veio aquela era em que atravessou o deserto. E o tempo dos oásis de água inquinada. Sobreviveu mas não encontrou mundo algum que fosse diferente. E voltou para trás do vidro da janela. Cada vez mais sujo. Julgava ter avistado os olhos cor de mel, procurando-a na distância. Mas como ter a certeza? Aquele vidro baço impedia-a de ver claro. Podia ter aberto a janela. Não o fez porque, lá fora, no mundo de sempre, estava demasiado frio.
28 comentários:
Nostálgico e doce, este teu texto metafórico sobre o amor e a vida.
Muito belo!
Por vezes não vemos mais além , porque temos medo de arriscar e querer ver!
Beijito.
Gostei da suavidade das tuas palavras. Beijos.
A concisão feita beleza!
Sim, podia, mas para lá da janela o mundo chove diferente.
O mundo lá fora pode ser assustador, mas viver na parte de dentro da janela pode-se tornar claustrofóbico...
Um olhar além do vidro de uma janela...
Além das gotas que caem...
Além do horizonte que retrata o fim ou o início...
Um simples olhar...
só para lá do vidro a vida é real!
um beijo.
Bonito o teu pensar.
Tenho andado sem tempo nem para te ler.
Um beijo
Recordaste-me um poema de Sophia de Mello Breyner: " Para atravessar contigo o deserto do mundo".
Muito bonito, este texto.
Um beijo
Um dia conheci uma “Ana”.
Limpava-lhe o vidro todos os dias.
Queria-o límpido, para que me pudesse ver.
Mas com o seu respirar o embaciava.
Eu sabia porquê!
Não consegui que respirasse para mim…
E não para o vidro!
:-)
Está frio lá fora!
Particularmente quando chega o inverno da vida.
Gostei do seu texto.
Cumprimentos
De facto minha amiga, Novembro é um mês em que se pensa e se vive frio. Mas passa.
Por mim o digo: - Tem de passar!
Bjs
Nostágico...profundo...tu...
Doce beijo
Olá VV
O amor dói...
mas apenas ele nos mostra o mundo.
Um beijo,
Stella
Sem dúvida, o início de um belo conto!...ou até romance...
ver, para além do que vemos com os olhos, é um privilégio difícil e gratificante--
Será aí que começa a inspiração? Belo e intenso com palavras suaves...
abraços
Gostei de conhecer a Ana e as suas dúvidas espelhadas num vidro.
Beijo
O medo do frio faz com que haja um acomodamento a um ambiente que se sente quente, mas que está longe de o ser.
Belo retrato!
Bjs
Sinto tanto o mundo de sempre, demasiado frio.
um bjo
Belo texto, Vida de Vidro.
Muitos relacionamentos que não chegando a «estoirar» se vao estiolando, desencadeiam reacções muito típicas -- tão bem evidenciadas pelo teu texto -- as de fazer uma certa «travessia de deserto» e -- pior das situações -- desencadear ágorafobia.
Bjs
Talvez se ela limpasse um pouco o vidro e olhasse mais além...
Um beijinho
gostei muito do teu conjunto
beijos
nunca se tem a certeza
Um texto suave e triste. Uma realidade comum a muitas Anas.
* Beijos!
Um belíssimo texto, onde a nostalgia do passado vivido é o impedimento para o necessário acordar...
Gostei de ler, pela suavidade e beleza das tuas palavras feitas expressões.
Beijinhos.
Olá menina,
Lindo, lindo...sentido e profundo.
Gostei muito.
Beijinho
Isa
...m
e
l
a
n
c
o
l
i
a...
bj
Que lindo o teu blog, a começar pelo nome, Vida de vidro! Adorei e já linkei lá no meu. Deixo abraços alados e transparentes.
Enviar um comentário