domingo, janeiro 07, 2007

Escritos do frio (I)






Um lugar estranho


Foram exactamente até ali. Àquele ponto onde, se não tomassem cuidado, a alma se precipitaria num abismo de emoções. E, à vista desse abismo, recuaram. Ela diz que ele recuou. Mas talvez não seja justo. Será que queria dar esse salto? Provavelmente não.
A verdade é que todos os recuos matam parte do que se ganhou pelo caminho. Caminhar ao invés sobre os próprios passos apaga as pegadas do caminho inicial. E, em cada uma, estão emoções, ânsias, desejos. Em cada uma está um pedaço da rota para algo que nunca se sabe exactamente como vai ser, que se deseja e se teme.
Aceitaram um compromisso de ficar entre o início e o fim do caminho. Mas talvez se tenham esquecido que já não são os mesmos e que aquele ponto onde se encontram também não tem um significado igual. Existe por ali um frio que os ataca interiormente. Na verdade, sentem-se perdidos. Por vezes, nem se reconhecem nas palavras que dizem ou não dizem. Não sabem o que esperam. Depois de ter chegado àquele lugar estranho a que chamaram amor, como voltar atrás?





Foto by Arthur Leipzig

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[Obrigada a quem traduziu (de forma poética mas nem por isso muito adequada), "Lost in translation" por "O amor é um lugar estranho". Independentemente do extraordinário filme que não tem nada a ver com o que escrevi, a frase serviu-me de inspiração.]

25 comentários:

João JR disse...

Olá vida:)
O amor é um lugar estranho...e tão comum ao mesmo tempo, não é?..
Lost in translation..é uma forma brilhante de interpretar algumas histórias..e super bem traduzida para muitos!
Desejo que este ano te brinde com o melhor, sempre:)
Um grande beijinho

M. disse...

Escreves muito bem sobre a vida. Muitas vezes com dor, outras com azul, outras... tantas as formas!

Bandida disse...

é preciso?...







B.
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Manuel Veiga disse...

porquê voltar atrás? bastará perservar esse estranho lugar. digo eu, que não vi o filme...

excelente texto.

JPD disse...

(Comentarei apenas o teu texto, não o filme, principalmente o título, que tanta e tão bela inspiração te proporcionou)

O grande desafio dos amantes é esse mesmo: não voltando atrás, fazer dessa chegada uma fonte de inspiração para uma emoção equivalenete e que eles, amantes, sabem tão bem que terá cargas emocionais com muitos e repetidos altos e baixos enquanto a chama funcionar.

Afrodite disse...

tão bem na prosa quanto na poesia.

É sempre um prazer passar por aqui.

§(~_~)§ beijo da Afrodite
(uma carinha d'anjo - não desfazendo - num corpo espectacular, com tudo no sítio, muito dentro do prazo, sem aditivos nem silicones)

as velas ardem ate ao fim disse...

Acreditas que quando me falam em frio só penso nos que vivem na rua, os sem abrigo.

O teu texto é muito bom como sempre.

bjinhos

Pedro Branco disse...

Ficaremos, então. Seguramente.

sotavento disse...

Não, não há retorno!... :)

Melga do Porto disse...

Repousei sobre as tuas palavras. Tive que o fazer pois senti frio.
O frio do ponto de congelação. Aquele ponto em que a água que corre, alegre e livremente, pelas margens do rio e num repente se torna numa camada branca que o recobre e esconde.
Sem dúvida um fina película, mas suficiente para não nos arriscarmos a pisá-la assumindo-a sólida.
Ficamos assim a olhar e a imaginar o rio que por debaixo dela corre.
Esperamos que descongele e possamos de novo navegar nas deliciosas águas do rio...
Mas notamos que faz, cada vez, mais frio...
Esfregamos as mãos, para as aquecer, pensando que é possível afastar o este frio que por vezes se sente!
Faz mesmo frio! Que lugar estranho este...onde nos imobilizamos...um dia!
Bj´s

*O filme “Lost in translation” é daqueles que não mais se esquecem...

Melga do Porto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nina Owls disse...

belíssimo texto. O amor é sempre um lugar estranho. O frio um atalho para lá chegar. Amei os teus sentidos neste texto. Reparei que terminas a apresentação deles com uma questão. Que gostava de ver respondida. In a private way, i mean.

Por vezes, nem se reconhecem nas palavras que dizem ou não dizem. Não sabem o que esperam. Depois de ter chegado àquele lugar estranho a que chamaram amor, como voltar atrás?

Como se volta atrás?

Cris disse...

não se pode voltar atrás... como se diz em termos aeronauticos, é PNR - Point of No Return, só há combustivel para ir, já não dá para regressar...

Bjos

C.

Maria Clarinda disse...

Belo!!!!

hfm disse...

do lugar estranho uma bela prosa!

Bandida disse...

... "ruínas" do R.Leão...


frios...









B.
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batista filho disse...

no passeio pela tua prosa situações vividas por tantos de nós...!

Mar da Lua disse...

Depois de chegar aquele sitio chamado amor, como podemos voltar para trás e entrar pela porta fria do desencanto e desamor?

Bom dia e um beijo

Teresa Durães disse...

Não se volta, na minha opinião :)

muito bem escrito! gostei!!

Anónimo disse...

Voltar atrás no amor, é como nunca o tivéssemos vivido. Só se volta atrás no amor, relendo páginas dum diário ou cartas trocadas.

Luís Galego disse...

Depois de ter chegado àquele lugar estranho a que chamaram amor, como voltar atrás?

não podemos deixar de amar só porque temos medo de vir a perder...se ainda não viste "Shadowlands" (Dois Estranhos, Um destino") aconselho e perceberás porquê.

Anónimo disse...

Dois caminhos..amor e paixão..
..um serenidade, quietude, o poder caminhar em todas as direcções e, em todos os sentidos..o outro instinto, queima atrozmente, neste.. nunca, nunca se deve tentar relembrar, calcorreando a mesma terra, os mesmos lugares..
A magia está, em saber viver, cada um..no seu tempo..

um abraço
intruso

Suspiros disse...

Decidiram-se por percursos diferentes, cada um fugindo pelo "seu atalho"... Cobardia? Ou sensatez? Talvez...
:)

r.e. disse...

parece que o frio nos tomou conta da inspiração. beijinho. J.

r.e. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.