segunda-feira, agosto 28, 2006

O homem que inventou o mar





"O mar cheirava a uma vela inchada pelo vento, onde a água, o sal e um sol frio se uniam"

Patrick Süskind, O Perfume


O homem ouvira falar do mar. Um daqueles viajantes que carregam consigo sonhos em forma de palavras, tinha dito das ondas, do azul, da imensidão de água. Falara dos peixes que o habitavam, contara lendas de espantar e dissera que os homens dos mundos à beira mar os pescavam, horas e horas sentados nos locais onde a água vinha tocar a terra.
Aquele homem vivia sozinho, num país árido, quase deserto. Tinha envelhecido a sonhar com o mar. Queria apanhar um peixe, ser da água, vivo, brilhante. Queria que as ondas o molhassem, lhe refrescassem o corpo, queria dar-se àquela água que, tinha a certeza, o esperava. A sua cana de pesca era um pau fino que todos os dias afagava, imaginando o belo peixe que nela dançaria. Até talvez o desse depois ao mar, onde afinal pertencia.
Um dia partiu. Caminhou na secura desértica sem que encontrasse nem vestígios de água. Olhou a planície à sua frente e desejou a frescura do mar que o viajante lhe descrevera. E avançou, com uma certeza profunda.
Contam, naquele país longínquo, que ninguém mais viu o homem. Na planície, encontraram o pau que sempre o acompanhava. Na sua ponta, já seco do sol tórrido, estava um peixe que alguns reconheceram das histórias que tinham ouvido.





Foto by Maciej Knapa

22 comentários:

Anónimo disse...

Criadora de lendas :)

Gostei!!

Boa noite

Anónimo disse...

Bdelíssimo texto.

:) Obrigada.

JPD disse...

Como evasão está brilhante.
Como meio onde poderão ser (re)criadas todas as esperanças, também
Voltarei
Bjs

avelana disse...

Gostei muito do PERFUME

mas por aqui o perfume é outro...

JP disse...

Grenouille caminaba de noche. Como al principio de su viaje, evitaba las ciudades, eludía los caminos, se echaba a dormir al amanecer, se levantaba a la caída de la tarde y reemprendía la marcha.

Fran Rebelatto disse...

Bela lenda, um bonito texto e teu blog também é bem agradável..

beijos

conchita disse...

Já li Patrick Süskind e gostei, as descrições dele são muito intensas.

Saludos.

M. disse...

Gostei muito. E do livro "O Perfume" também.

naturalissima disse...

Vida de Vidro

Tenho vindo a admirar com respeito e com um sentimento especial por todos os poemas e histórias que escreves.

Mas esta lenda, dentro da minha sensibilidade, ultrapassou tudo, pela sua grandeza de sentimento, humanismo, sonho, desejo, fantasia, pelo querer ser e pertencer a um lugar ou a lugar nenhum...

Li já duas vezes, mas farei mais umas quantas, sem me cansar, porque me vi dentro dessa personagem e com ela quero continuar a sonhar.

Foi agora, um momento especial para mim! Não tenhas dúvida!

Um beijinho
Daniela

Joker disse...

Olá ;)

Linda esta tua lenda...encantou-me e quando acabei de a ler lembrei-me destas palavras!!!!
Num passe de mágica, partilho-as contigo com um beijinho na tua fértil criatividade!


ESTOU ALÉM

Não consigo dominar
Este estado de ansiedade
A pressa de chegar
P'ra não chegar tarde

Não sei de que é que eu fujo
Será desta solidão
Mas porque é que eu recuso
Quem quer dar-me a mão

Vou continuar a procurar
A quem eu me quero dar
Porque até aqui eu só:
Quero quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem não conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca conheci
Porque eu só quero quem
Quem eu nunca vi

Esta insatisfação
Não consigo compreender
Sempre esta sensação
Que estou a perder

Tenho pressa de sair
Quero sentir ao chegar
Vontade de partir
P'ra outro lugar

Vou continuar a procurar
O meu mundo
O meu lugar
Porque até aqui eu só:
Estou bem aonde não estou
Porque eu só quero ir
Aonde eu não vou
Porque eu só quero estar
Aonde não estou
Porque eu só estou bem
Aonde não estou

António Variações

Cris disse...

Todos nós temos que procurar o nosso mar...

Teresa Durães disse...

Olá,

Pois, também li ;)

Também gostei
Também regressei.

Bom dia

Anónimo disse...

deixo um beijo ao sabor do vento

Melga do Porto disse...

Ouvira falar do amor, da beleza e frescura do sentir.
Desejou-o para si, mas não ousou.
Envelheceu sem o sentir. Finalmente parte à sua procura.
Temerário! Mas decidido! Terá vencido a jornada...
:))
Parabéns!

Rui disse...

Partiu à sua procura. Encontrou-se.
Lindo.

... disse...

Devo ser a única pessoa que ainda não leu esse livro.

Rita Contreiras disse...

Buscar a água é buscar as emoções que são simbolizadas por ela. Emoção é o que não falta nesse texto. Abraço.

Teresa Durães disse...

(o teu papel é pequeno mas o público gostou da peça... pelo menos assim o disseram...)

boa noite ;)

Miudaaa disse...

Gostei muito... sereno...
Parabéns,,, uma boa noiteee bonita, como tu!!!
1 beijo da miudaaa

Cristiano Contreiras disse...

Puro e voraz desbravador do sentimento próprio. Vive!

Louco Ode Sonhador disse...

Mais um sentimento descrito, mais uma ilusão disfarçada, que adoro.
Fazes voar.
Abraços até um dia.

mac disse...

Muitos há que não têm coragem de procurar o seu mar, aquilo que os faz sonhar e vibrar por dentro. Vivas para aqueles que não têm medo de enfrentar o deserto inóspito, sem saber se iriam ver o seu sonho.