sábado, agosto 19, 2006

Ciclos





Para ela, a vida desenvolvia-se em ciclos que nunca terminavam abruptamente. Iam terminando, numa sucessão de sinais a que estava sempre (demasiado) atenta. Assistia, quase como espectadora, às suas reacções quando um ciclo começava a acabar. Porque todos os finais têm um começo. Ouvia os sons, sentia o bater do coração, reparava no cansaço, no aborrecimento… sinais. E um dia, que parecia súbito mas não era, decidia terminar o ciclo. Nessa altura, nada a fazia já voltar atrás. Tudo o que a prendia a um local, a uma pessoa, a uma “forma de vida” deixava de ter significado. Acabara o ciclo. Sofria? Claro, ser espectadora não a impedia de estar no palco da vida.

Hoje, resolveu terminar um ciclo. Os sinais já se faziam ouvir há muito e demasiado alto.
Parte dela ainda está dentro da personagem anterior. E sofre. Outra parte vive já num novo ciclo que durará exactamente até que os sinais lhe gritem que é altura de acabar.





Foto by António Delicado

20 comentários:

naturalissima disse...

A vida é feita de ciclos.
Gostei abstante, amiga. E a fotografia é magnifica

Um beijinho e um BOM fim de semana
Daniela

JP disse...

Vida de vidro, de fora para dentro e de dentro para fora. Por vezes, o olhar, que atravessa e trespassa, não transmite sensações com a mesma intensidade em ambos os sentidos. Há os que só deixam ver de um lado, os que reflectem a nossa imagem e os que fazem as duas coisas. Prefiro os últimos quando permitem e obrigam a acontecer o mesmo do outro lado. Os ciclos, geralmente, não são concêntricos, vão-se afastando, quer queiramos, quer não, formam espirais ascendentes ou descendentes. Espero e desejo que a sua se eleve e estreite, em direcção a um ponto único, bem alto.

Unknown disse...

E, por vezes, nem queremos ler os sinais de fim de ciclo...
Reflecti contigo. Obrigado.

daniel

Teresa Durães disse...

Conheço demasiado bem o texto. Não porque o tenha lido em algum sítio.

Para isso bastava olhar-me no espelho :)

Gostei!

bettips disse...

Linda! bjs

Maresi@ disse...

...toda a nossa vida é composta por ciclos...Fecham se uns...abrem se outros! Mas a vida continua...
Deixo beijo Grande __________Maresi@

José Leite disse...

Há encruzilhadas que não se podem evitar...

Luna disse...

A vida é feita de começos e recomeços
beijinho

Ant disse...

Mudar é crescer. Implica sempre,mas sempre mesmo algum sofrimento.
Será que as crisálidas também sofrem?

Anónimo disse...

Que este dia simbolize a vida e celebre todos aqueles que a amavam.

Beijinhos

CANTOROUCO disse...

Há minutos por aqui a ler, este e os anteriores postes. Parto, reflectindo sobre os «ciclos» - da natureza, do homem, dos sentimentos... À memória veio-me também o soneto de Camões e o terceto final.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.


Bom domingo. Beijo.

Melga do Porto disse...

Uma efémera ou uma fénix. De ambas temos todos um pouco.Pelo menos gostariamos de o conseguir ser...um dia!
:)))

Desassossego disse...

Pela primeira vez na vida vou tentar terminar um ciclo... iniciar uma nova etapa da minha vida...assumir quem sou e o que quero sem interferencias... espero conseguir...

Vou de férias deixo um xi apertadinho...

efvilha disse...

Uma enorme força de significado emana da abertura deste teu blog.
Somos confinados a um círculo? O perene ciclo de todas as nossas vidas?
Somos pacientes viajantes, curvados à inexorável fluição dos tempos?
Que haverá na solitária mala à frente, senão a prenhês de todas as esperanças?
Ciclos, ou platôs, aquilo que nos arrasta, e consome?
Para onde vai a nossa viagem, se da janela não parte um caminho?
Que angustiante fluir de perguntas.
Para tantas, haverá outras tantas respostas?
São nossas almas "Corpos sem órgãos", mas jamais vazias de todas as esperanças.
Cordial abraço.

Jonas Prochownik disse...

Seu texto é sensível e emocionante.
A imagem perfeita.
Um espetáculo !

Diana disse...

mas a vida é mesmo assim, e também acredito nesses ciclos. Não existe um começo e um fim, mas vários.. e um novo começo começa sempre no final. há que renovar continuamente. :)

Licínia Quitério disse...

Até entontecer, não é?
Bonito texto.
Beijinho.

Manuel Veiga disse...

sinais de vida renovada...

beijos

naoseiquenome usar disse...

Quando se tem essa noção dos sinais e se espera pelo fim já com a noção de um recomeço, seja ele puramente interior ou mais virado para o exterior, geralmente é timbre de grande racionalidade.
Julgo porém, que para fechar mesmo um ciclo, o que vier há-de ser de amior contemplação,ou correr-se-à o risco de um dia, sem se dar conta, a vida estar por demais fragmentada e estilhaçada.

diabinho disse...

Parece k voltaste a navegar...
Se assim for, espero k chegues a bom porto...
Beijinhos