“E era aquele concerto, uma sinfonia em tons e sons, a contrariar aquele calor todo. Gritos de uma gaita-de-foles, com o seu fôlego a correr pelos fraguedos (…) com ritmos marcados nas evocações antigas de sonoridades celtas que parecia sempre terem ali estado”
“ I era aquel cuncerto, ua sinfonie an tons i sons, a cuntrariar aquel calor todo. Gritos d’ua gaita-de-foles, cun l seu fôlego a correr puls fraguedos (…) cun ritmos marcados nas eibocaçones antigas de sonoridades celtas qu’até parecie que siempre habien alhi stado”
Jorge Castro, in Havia Trigo (Habie Trigo)
Ed. bilingue – tradução para mirandês de António Bártolo Alves
Terras de extremos. De pedras e árvores antigas. De vales escavados em rudes escarpas e dum rio que neles passeia a sua majestade ou se faz pequena serpente de água que nos cativa o olhar. De paisagens que nos esmagam e cortam a respiração. De calor que nos abrasa e frio que nos remete para o quente das lareiras na intimidade mesclada de aromas das alheiras, dos chouriços, das ervas, do mel. Nove meses de Inverno e três de inferno, diz quem por lá vive…
Terras onde se guardam rituais antigos, repetidos, relembrados, povoando a imaginação dos mais novos e os medos ancestrais dos mais velhos. Tudo é transmitido em palavras, sons de tambores e gaitas de foles, sabores que se aprendem nas velhas cozinhas. Tudo é tão diferente e afinal tão enterrado nas nossas raízes que uma língua que é nossa e não é, brotou e cresceu falada por gente áspera mas doce, de anedota brejeira que sai em desafio rápido à rudeza da vida. Terras lá bem longe dos que vivem virados para o mar. Bom será lá ir, para saber de Portugal mais do que o quotidiano nos ensina.
Foto by vida de vidro
24 comentários:
Não faz nem uma hora que estive à conversa sobre uns trabalhos que um pessoal aqui dos blogs andou a fazer em Mirandês, vê lá tu!... :)
E sim, também sei da rudeza da vida por lá e das paisagens únicas e das gentes tão próprias, irmãos nossos...
(Ah, e do sabor da carne de vaca!...) :)
Ah, pois, fui conferir, também estás a falar do Orca!...
Também foste? :)
Sem dúvida.
Há dois anos foi a Sendim, perto de Miranda do Douro, assistir ao Festival de Música Celta. A viagem de carro, sempre pela fronteira, é inesquecível pela incrível rudeza e majestade das suas rochas. Sendim é uma aldeia deliciosa, e os grupos musicais, que vinham de países como a Suécia, a Irlanda Espanha etc., foram recebidos por filas de archotes nas mãos de jovems escuteiros, de ambos os lados da rua, numa noite em que às 11 horas ainda estavam quase 30 graus.
Uma experiência que aconselho a todos, pela música, pela beleza natural, pela hospitalidade e pela comida.
http://www.sendim.net/
http://www.intercelticosendim.com/
Nunca fui a Trás-os-Montes e todos os anos vou ao Minho... ~conheço Portugal inteiro menos esse rectângulo.
Adorei o texto. adorei, simplesmente, fala de Portugal. De nós. Do que somos fora das cidades. Celtas? (aqui contradigo pelo que tenho estudado em arquelogia) Enquanto Celtas=estrangeiros, sim, claro.
Celtas nossos = celtas franceses ou ingleses ainda é muito discutivel. Mas não interessa. O que interessa é o teu texto magnífico.
parabéns
sendim é belíssima mas miranda e a barragem astonishment...tem uma feira de artesanato (eu levava pedras preciosas e semi preciosas trabalhadas por um grupo escola de porto para lá apresentar e obrigou-me a pernoitar por lá uns dias. Lindo...tentaram os mais jovens inclusivé me ensinar o mirandês, vimos espectáculos de rock e de música popular, comemos postas mirandesas ou meias postas, vimos os monumentos de miranda e arredores. De Sendim ficou-me a beleza de um café da manhã numa rua mal ladrilhada com bosta de boi a meio, numa esplanada pequena de um "café mais pequeno ainda", de uma fonte magnifica, de uma casa de artesanato onde comprei objectos tipicos e do linguajar tb tipico e cantante das pessoas mais velhas, da bela capela de sendim, dos burros na rua aparcados qual automóveis...de miranda, o menino jesus da cartolinha e os monumentos belissimos e depois a paisagem que nos deixa sem ar perante tanta perfeição. Deus é energia, só pode. Entender a natureza dispensa qualquer tentativa de linguagem verbal humana. Lindo mesmo. Gostei do Mirandum. Uma boa noite Alice
Achei linda a foto. Falas de Mirandela, em Trás os Montes? Eu estive, lá. (olha, Teresa, eu fiu)e vi o rio que falas. É o Corgo? E fui a Chaves e Vila Real. O rapaz foi também! Dançava num Grupo Folclórico do Brasil que ia todos os anos a Portugal.
Falei demais? Tô indo.
beijos
Pitanga:
Falo de Miranda do Douro, mesmo na raia de Espanha. Uma terra lindíssima, carregada de tradições.
Oh Miranda do Douro, lindissima.
O ano passado fui lá passar uns dias de férias e adorei.
Só não percebo muito bem, o que dizem quando falam depressa..
Beijos
"Terras onde se guardam rituais antigos, repetidos, relembrados, povoando a imaginação dos mais novos e os medos ancestrais dos mais velhos. Tudo é transmitido em palavras, sons de tambores e gaitas de foles, sabores que se aprendem nas velhas cozinhas."
Qual será o verdeiro Portugal? Aquele em que vivemos ou a resistente "aldeia" mirandesa?
Esse verdadeiro Portugal devia ser preservado e resguardado, lamento não conhecer, apesar da distância conheço bastante do norte de Portugal, mas Miranda do Douro fica para uma próxima oportunidade porque adorei o texto, a descrição, deve ser lindo.
Beijos.
Mas nem duvido... É nessas gentes que est´~ao as raízes dum Portugal que deveríamso todos conhecer e estar empenhados em renovar! **
A dois passos do meu "Interior"...
Adoro o "barroso" e terras de Miranda do Douro!
Chega a ser um escape....
Adorei o post... porque o li e nele viajei....
beijo bem transmontano para TI!!!
Paulo
Linda foto
beijos
Olá! Que bom ter-te de volta...
Linda terra, de cheiros e sabores diferentes, onde as paisagens nos regalam os olhos e as pessoas nos tocam o coração, gente rude e doce ao mesmo tempo, gente que vive e respira o ar puro sem "máscaras".
beijinhos
Terras de extremos!
que viagem ao passado...assim até me deste vontade de visitar! (que eu conheço tão mal o norte...) um beijo*
“Bom será lá ir, para saber de Portugal mais do que o quotidiano nos ensina.”
Esta frase não sei me confundiu se me assustou! Acho que ambas as coisas.
Confundiu-me no sentido em que deixei claramente de acreditar que o “regresso” sensorial as estas regiões resulte no “saber de Portugal”. Temos que encarar em definitivo que uma coisa são as raízes da nação, com o saudosismo que o acompanha, outra é o Portugal real da sociedade global actual.
Assustou-me na medida em que falamos e esclarecemos os nossos jovens que Portugal não existe por si só, mas como membro de uma sociedade global. Sistemáticamente os nossos jovens e mesmo nós somos conduzidos para esse Portugal Global.
Assim, o que é afinal importante “saber de Portugal”?
Vamos a ver se assentamos ideias!
É fundamental!
Pois esta dicotomia não está prevista nos nossos GPS’s (“sistema de posicionamento geográfico”), nem tão pouco no nosso quotidiano.
;))
que cenário...belíssimo texto...sugere uma delicisosa provocação dos sentidos...gostei muito. um beijo
Estas tuas duas últimas fotos estão magníficas.
Dos textos nem adianta falar, não me vou repetir cada vez que aqui passo.
KISS
Um momento original e intenso, tão intenso que apetece sair e descobrir terras de "Miranda"!º
Até outro instante...
Kiss
Feio, feio, inóspito (?), mas feio de belo.
Fica bem.
Manuel
Apetece fazer-me ao caminho. A caminho de Miranda do Douro, "para saber de Portugal mais do que o quotidiano nos ensina."
Adorei verdadeiramente o teu texto. Achei muito, muito bom, tremendamente inspirado.Muito obrigada pelo prazer que foi ler-te.
Muitos beijinhos.
Isabel
Conheço Miranda... o Barrocal também é lindíssimo. É uma terra de sabores, cheiros e cenários únicos. Pena é demorar tanto tempo lá chegar!
Tenho boas recordações de um festival de música celta em Sendim numa noite quente de Agosto. Foi uma experiência inesquecível ter o céu como tecto e ouvir aquela música que quase tocava as estrelas. Apeteceu-me ter ficado naquele terreiro até a manhã nascer.
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