É Outono. E ainda não
chove. Tenho esta imitação de folha em branco e os dedos tropeçam
no teclado. De quem falo? Como querias ser lembrado? O dourado dos
caracóis da criança, as impertinências do adolescente espigado, o
homem, o pai, o artista... Haverá muitas coisas de ti que não
conheci. Mas, agora que aqui não estás e já não te posso
perguntar, não consigo que os meus dedos encontrem as palavras que
te descrevem. Só inquietação. Minha, tua. Levaste contigo a paz
que se encontra nas memórias de infância, nos risos antigos que
ficam a ecoar nas casas. Ficaram as perguntas, os silêncios, os
vazios que não serão preenchidos.
Inquietação. Estás em
frente à janela, tenho a certeza. É Outono. E a chuva ainda não
bateu nos vidros.