sábado, julho 05, 2008

A primeira viagem




Pôs o pé no primeiro degrau da carruagem, olhando a plataforma na esperança de que alguém tivesse vindo despedir-se. Aquela era a sua primeira viagem para lá da cidadezinha de província onde vivia. Fantasiara que alguém chegaria à estação a correr com uma caixa de chocolate e flores nos braços. Como nos filmes. Mas quem viria? Na sua vida ignorada de empregada de uma pequena empresa, tinha um ou dois conhecidos a quem nem podia chamar amigos. E vivia só. Da família, tinha a ideia ténue da existência de uns longínquos parentes. Quem viria, na verdade?
Era a primeira licença que tirava, mais por não saber o que fazer do que por zelo no trabalho. Mas, num dia em que o sol brilhava e um sorriso desconhecido a tinha acariciado, decidira aventurar-se. Aqueles quinze dias ao pé do mar talvez a tirassem da sombra em que sempre tinha vivido.
Entrou na carruagem, abriu a janela e aspirou o aroma envolvente dum belo dia de Verão. À medida que o comboio ganhava velocidade na linha, algo lhe dizia que ia iniciar uma nova vida. Fechou os olhos e sonhou com águas cálidas e um desconhecido cujo rosto não tinha ainda contornos. Não era sempre assim nos filmes?




[Este é o texto do 2º Jogo das 12 palavras. Para este jogo, foram escolhidas as palavras: caixa, chocolate, degrau, envolvente, flores, licença, linha, sol, sombra, ténue, viagem, vida. Bom fim de semana!]

16 comentários:

Nilson Barcelli disse...

Já tinha lido o teu texto na altura, ou então é como se já o tivesse lido...
É um magnífico texto cara amiga.

Bfs, beijinhos.

bettips disse...

Quantos de nós o pensaram? Os filmes de filmes!!!
Para mim...era mais o "Casablana" com avião antigo e nevoeiro...
Acariciador, o texto!
Beijinhos

bettips disse...

"Casablanca", claro...

Menina do Rio disse...

E porque a vida não deixa de ser um filme; tudo é possivel. Basta fechar os olhos, embarcar no trem e quem sabe lá na curva...

Um beijo

mac disse...

O desconhecido espera por nós nesta viagem, e uma mudança avizinha-se...

Anónimo disse...

é um lindo texto que retrata bem uma situação que talvez algum de nós já tenha passado. E a tua história flui leve como se não houvesse palavras impostas: tudo parece natural e expontâneo. Parabéns.

M. disse...

Já tinha gostado do texto no Eremitério, mas aqui, isolado, gosto ainda mais.

angelá disse...

Um texto costurado na perfeição.

Beijo

Nina Owls disse...

concordo com a Luísa acerca da imposição de palavras, parece que não há imposições e nem limites. O filme dos filmes é, também a meu ver o Casablanca. - Play it again Sam. For the timesakes...
Tu não és o Sam mas aposto que saberias cantar o as time goes by muito bem....tarai tarai taram
Belo texto tão teu;) é um mimo, mesmo.

Anónimo disse...

E, casaram-se e foram felizes para sempre..ou apareceu produto de distração..ou entra no ciclo do cheiro e, é pior que a cocaína..uma aventura faz sempre parte da vida..mas, o futuro faz-se sempre com presente..

abraço

intruso

Marinha de Allegue disse...

Foi unha grata sorpresa atoparte de novo...

Beijinhos.
:)

borrowingme disse...

só passei para deixar um bj

M.P. disse...

É sempre um desafio á imaginação fazer um texto que associe palavras e que lhes dê um contexto. Gosto muito do que escreveste. Beijo

Anónimo disse...

As Pontes de Madison County... adoro! vim aqui pela mão do Eremitério, também participo no jogo das palavras. Aparece no meu cantinho.

Abraço,
Sónia

Manuel Veiga disse...

de certo depois dessa outras viagens terão. numa bela corrente. de emoções. como num jogo de palavras que se ajustam...

gostei do texto.

pentelho real disse...

um texto muito bem conseguido num jogo que não é de todo fácil.

desejo que ela tenha encontrado o tal...