Era em Paris. É fundamental clarificar. Não há nisto qualquer snobismo. Quem alguma vez mergulhou a sério naquela cidade sabe o que quero dizer. A minha segunda cidade, apenas porque o que me liga a Lisboa tem raízes profundas de vida. Paris é um encanto fundado em vários encontros mas que, na verdade, são apenas encontros. Não há o tempo da desilusão.
Mas era assim em Paris, num Abril cheio de sol, quando aquela luz sobre o Sena já se mostrava aos olhos de milhares de turistas. Naquele dia tínhamos decidido subir a Montmartre. Celebrava-se um aniversário de quem ali ia pela segunda vez, sendo que, na verdade, era a primeira com um olhar adulto. E o que podia ser mais típico que Montmartre? Foi difícil chegar lá acima. O velhinho funicular não funcionava e, chegados a Abbesses, lá fomos, parte a pé, parte de autocarro, até ao cimo da colina. Os olhos sempre vagueando pelas fachadas dos prédios, as lojas de tudo o que se pode imaginar, parecendo algumas ter parado no tempo. O Sacré-Coeur era indiferente à multidão de turistas que se acumulava para fotografar e ver aquela vista de Paris. Aquela… porque é única. Paris tem muitos locais onde pode ser olhado a perder de vista. Aquela talvez não seja a mais abrangente mas é, na verdade, única. Ou talvez o local seja único. É algo que não se esquece, olhar Paris sentado nos degraus da basílica.
Perdemo-nos por ali até o sol baixar. Por aquela altura, já estava decidido jantar na Place du Tertre. Na verdade, a praça tinha tanta gente que era quase impossível “apanhar” a atmosfera que por lá paira em épocas mais sossegadas. Olhar os quadros, olhar os aspirantes a artistas. Por muito adulterado e adaptado ao turismo que o local esteja, restam ainda alguns “genuínos” artistas de rua que ali trabalham ou apenas tentam vender a sua obra. Mas cuidado que a caça ao turista está aberta, por ali… Não sei se aquele que captei é um dos genuínos ou não. Pareceu-me tentar reviver Gauguin, no seu tempo de influência do Taiti. Não resisti a capturar a cena, de tal maneira respirava o “ar de outro tempo”. E o dia acabou com um jantar a não esquecer na Mére Catherine, onde a palavra “bistrot” foi inventada. Querem saber como? Podem ver mais aqui. Quanto a mim, depois de escrever isto, fiquei com vontade de partir. Já.
[Esta quinta-feira no Palavra puxa palavra o tema era ARTE e esta foi a foto com que participei. Bom fim de semana, com arte e sol!]
15 comentários:
"Tenho mais dúvidas que certezas. Procuro encontrar respostas dentro e fora de mim"
Esta sua frase só pode ter motivado a escolha da foto.....
Penso eu....
Até sempre
Paulo
perdi.me por aqui ---nas tuas palavras............paris
excelente foto.gostei
jocas maradas...sempre
Paris...a cidade dos amores, onde a luz é mágica. Ainda lá não fui, mas cada vez tenho mais vontade de lá ir.
Quando se ama muito uma cidade, tem de se voltar muitas e muitas vezes para a usufruir toda. Em poucas palavras conseguiste despertar em mim o apetite...
Amores e paixões que se fazem espaços e terras
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Bom fim-de-semana
bjo de cristal
Claro que quando se fala de Paris isso toca-me em particular. Gostei muito.
Primeira visita à Place du Tertre tinha eu 18 anos, e uma parte do meu imaginário por lá ficou a vaguear, para sempre. Se ouço o Aznavour em "La boème", é a Place do Tertre que vejo, é o ambiente, é a filosofia, é o "je ne sais quoi" que lá existe.
Bom teres-ma recordado:))
Beijo
quando dizes visitar paris com olhos de adulta, entendo uma visitação original. Porque na primeira vez que lá vais, estás certamente carregada de ideais de luzes e romantismos. Não é revisitação. Paris, a olho nú é a caça ao turismo, é a aspiração a um lugar ao sol mas tb é Sena e Montmartre e o espírito de quem não habita mas visita.
Gostei do texto e especialmente da foto. Bom fim de semana, Alice
Paris...uma foto...o teu talento para as palavras...
Doce beijo
belíssio conto, efabulado ou não. Quem quer saber disso?
;)
Bj
Tu és tu?
Fui agora ver por onde andaste, antes ... e foi como entrar num sítio cheio de gente, barulho, e conhecer uma cara, um silêncio, uma imagem, umas palavras. Tive o teu "lugar" aqui ao lado, nos favoritos, há que tempos!...ainda lá deve estar, mesmo depois do vazio "mulher dos...". Voltamos a encontrarmo-nos no PPP mas eu não relacionei o "antes"...
Foi isso que descobri agora mesmo e te venho dizer. Como nunca mudei o nome, ter-me-ás reconhecido?
E Paris teria de ser assim contada. Tal como a recordamos, eu, tu, a M., a Justine ... só podia ser com olhos de visões, encantos, romantismos e pequenas alegrias de descobrir. Ah...o que era tão pequeno aqui ...
Bjinhos Lique
snobismo?
já o vi na blogosfera.
aqui nunca dei por ele.
Muito bem!
Passei para te conhecer...
Gostei!
Bjs
Gostei imenso do que dizes, da imagem, do amor ao lugares que estão em nós...
Beijinhos
E eu contigo depois de ler...acredita já fiz isto tudo, por isso te entendo tão bem...Esta é a Paris que eu amo.
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