sexta-feira, julho 18, 2008

História de uma foto



Era em Paris. É fundamental clarificar. Não há nisto qualquer snobismo. Quem alguma vez mergulhou a sério naquela cidade sabe o que quero dizer. A minha segunda cidade, apenas porque o que me liga a Lisboa tem raízes profundas de vida. Paris é um encanto fundado em vários encontros mas que, na verdade, são apenas encontros. Não há o tempo da desilusão.
Mas era assim em Paris, num Abril cheio de sol, quando aquela luz sobre o Sena já se mostrava aos olhos de milhares de turistas. Naquele dia tínhamos decidido subir a Montmartre. Celebrava-se um aniversário de quem ali ia pela segunda vez, sendo que, na verdade, era a primeira com um olhar adulto. E o que podia ser mais típico que Montmartre? Foi difícil chegar lá acima. O velhinho funicular não funcionava e, chegados a Abbesses, lá fomos, parte a pé, parte de autocarro, até ao cimo da colina. Os olhos sempre vagueando pelas fachadas dos prédios, as lojas de tudo o que se pode imaginar, parecendo algumas ter parado no tempo. O Sacré-Coeur era indiferente à multidão de turistas que se acumulava para fotografar e ver aquela vista de Paris. Aquela… porque é única. Paris tem muitos locais onde pode ser olhado a perder de vista. Aquela talvez não seja a mais abrangente mas é, na verdade, única. Ou talvez o local seja único. É algo que não se esquece, olhar Paris sentado nos degraus da basílica.
Perdemo-nos por ali até o sol baixar. Por aquela altura, já estava decidido jantar na Place du Tertre. Na verdade, a praça tinha tanta gente que era quase impossível “apanhar” a atmosfera que por lá paira em épocas mais sossegadas. Olhar os quadros, olhar os aspirantes a artistas. Por muito adulterado e adaptado ao turismo que o local esteja, restam ainda alguns “genuínos” artistas de rua que ali trabalham ou apenas tentam vender a sua obra. Mas cuidado que a caça ao turista está aberta, por ali… Não sei se aquele que captei é um dos genuínos ou não. Pareceu-me tentar reviver Gauguin, no seu tempo de influência do Taiti. Não resisti a capturar a cena, de tal maneira respirava o “ar de outro tempo”. E o dia acabou com um jantar a não esquecer na Mére Catherine, onde a palavra “bistrot” foi inventada. Querem saber como? Podem ver mais aqui. Quanto a mim, depois de escrever isto, fiquei com vontade de partir. Já.




[Esta quinta-feira no Palavra puxa palavra o tema era ARTE e esta foi a foto com que participei. Bom fim de semana, com arte e sol!]

15 comentários:

Paulo disse...

"Tenho mais dúvidas que certezas. Procuro encontrar respostas dentro e fora de mim"


Esta sua frase só pode ter motivado a escolha da foto.....
Penso eu....
Até sempre
Paulo

Su disse...

perdi.me por aqui ---nas tuas palavras............paris

excelente foto.gostei

jocas maradas...sempre

mac disse...

Paris...a cidade dos amores, onde a luz é mágica. Ainda lá não fui, mas cada vez tenho mais vontade de lá ir.

Anónimo disse...

Quando se ama muito uma cidade, tem de se voltar muitas e muitas vezes para a usufruir toda. Em poucas palavras conseguiste despertar em mim o apetite...

SMA disse...

Amores e paixões que se fazem espaços e terras
.
.
.
Bom fim-de-semana
bjo de cristal

M. disse...

Claro que quando se fala de Paris isso toca-me em particular. Gostei muito.

Justine disse...

Primeira visita à Place du Tertre tinha eu 18 anos, e uma parte do meu imaginário por lá ficou a vaguear, para sempre. Se ouço o Aznavour em "La boème", é a Place do Tertre que vejo, é o ambiente, é a filosofia, é o "je ne sais quoi" que lá existe.
Bom teres-ma recordado:))
Beijo

Nina Owls disse...

quando dizes visitar paris com olhos de adulta, entendo uma visitação original. Porque na primeira vez que lá vais, estás certamente carregada de ideais de luzes e romantismos. Não é revisitação. Paris, a olho nú é a caça ao turismo, é a aspiração a um lugar ao sol mas tb é Sena e Montmartre e o espírito de quem não habita mas visita.
Gostei do texto e especialmente da foto. Bom fim de semana, Alice

O Profeta disse...

Paris...uma foto...o teu talento para as palavras...


Doce beijo

Ant disse...

belíssio conto, efabulado ou não. Quem quer saber disso?
;)

Bj

bettips disse...

Tu és tu?
Fui agora ver por onde andaste, antes ... e foi como entrar num sítio cheio de gente, barulho, e conhecer uma cara, um silêncio, uma imagem, umas palavras. Tive o teu "lugar" aqui ao lado, nos favoritos, há que tempos!...ainda lá deve estar, mesmo depois do vazio "mulher dos...". Voltamos a encontrarmo-nos no PPP mas eu não relacionei o "antes"...
Foi isso que descobri agora mesmo e te venho dizer. Como nunca mudei o nome, ter-me-ás reconhecido?
E Paris teria de ser assim contada. Tal como a recordamos, eu, tu, a M., a Justine ... só podia ser com olhos de visões, encantos, romantismos e pequenas alegrias de descobrir. Ah...o que era tão pequeno aqui ...
Bjinhos Lique

crise disse...

snobismo?

já o vi na blogosfera.

aqui nunca dei por ele.

Fá menor disse...

Muito bem!

Passei para te conhecer...

Gostei!

Bjs

Menina do Rio disse...

Gostei imenso do que dizes, da imagem, do amor ao lugares que estão em nós...

Beijinhos

Maria Clarinda disse...

E eu contigo depois de ler...acredita já fiz isto tudo, por isso te entendo tão bem...Esta é a Paris que eu amo.