
A chuva tem um poder. Leva-nos, em viagens interiores, a lugares adormecidos nos dias de sol. Descobrimos veredas sombrias. Ou caminhos largos de amor à vida. Potencia o que em nós está dormente. Por dentro. Acentua a dor, dá asas à alegria. Tanto nos apetece deixá-la escorrer pelo corpo dançante como protegermo-nos num casulo sem abertura. A chuva cai. É o que dizemos. A chuva entranha-se. Na terra e em nós. Tal como arrasta terras e lama, revolve sentimentos. Perguntamos. Perguntamo-nos. Sobre a vida. Sobre nós. Por vezes não queremos resposta. Talvez só a que vem da canção que soa nos vidros. Murmura-nos palavras de tristeza. Conforto. Purificação. A chuva é imprevisível.