Estamos a três dias do Natal e dou comigo a lembrar os
tempos em que os presépios tinham musgo apanhado pelos campos, pratas ou vidros
que imitavam água, toscas figuras de barro pintado. E tudo fazia sentido, numa
composição virada para uma criança recém-nascida, esperança e paz deste mundo.
Não havia Pai Natal nem árvore. Todos os preparativos eram
feitos na noite de 24. Grandes alguidares onde se batiam os sonhos e, no lume,
a canja da galinha criada no quintal. Bem antes de deitar a chaminé era limpa,
enfeitada e os sapatos brilhantes ficavam ali à espera. Na verdade, a espera
era nossa, das crianças. O que estaria lá de manhã? Doces, um brinquedo talvez?
Um livro, sempre, a partir da idade de os saber compreender.
Porque me lembrei deste Natal frio do menino Jesus, sem
grandes enfeites, sem grandes brilhos, feito com os parcos recursos disponíveis?
Provavelmente só para me esquecer das angústias do Natal deste ano. Que vou
pedir ao Pai Natal ou ao menino Jesus ou apenas à estrela que brilhe no céu
nessa noite? Não há milagre que me faça sair da realidade das perdas, das dores
acumuladas, das angústias de um ano sem esperança, sabendo que o próximo será
talvez pior. Talvez por isso tenho que voltar à simplicidade da infância,
aquela época em que o Natal era humilde como sempre devia ter sido. A festa do
nascimento de uma criança numa manjedoura. Só isso. E a paz tranquila desses
tempos. Será esse o meu pedido de Natal, o meu voto de Ano Novo. A
possibilidade de viver em paz comigo e com os outros. Será possível pedir algo
mais este ano?
[Desejo a quem ainda aqui passa um Bom Natal e que 2012 passe
rápido e indolor.]