domingo, janeiro 30, 2011

Nevoeiro

Do dia em que o nevoeiro caiu sobre aquela terra, nada constava nos anais da história nem na memória dos homens. Se uns diziam que tinha acontecido de repente, outros garantiam ser um acontecimento previsível. É sabido que quando o nevoeiro cobre o caminho dos homens, cada um vê coisas diferentes. Uns tacteavam a escuridão, num caminhar penoso sem qualquer rumo. Outros sonhavam melancolicamente e imaginavam estranhas formas feitas de bruma. Todos sabiam que havia quem quisesse cortar o nevoeiro à procura do sol. As crianças escutavam lendas sobre esse disco dourado e quente e campos cobertos de flores vermelhas. Os mais velhos falavam de alegria e felicidade, palavras antigas que os dicionários tinham esquecido. Na sombra das histórias contadas à noite, quando o nevoeiro se tornava mais insuportável, germinava pouco a pouco uma outra palavra já há muito esquecida: esperança. Também sabia a geração mais antiga que, quando a esperança se impõe no coração dos homens, é difícil impedir que eles lutem para a concretizar. Foi assim, de história em história, de lenda em lenda, que alguns iniciaram a caminhada para procurar o sol. Nos olhos dos outros, dos que não se aventuraram, ficou a espera. Os forasteiros que por ali passavam diziam que aquele era um povo parado numa esquina do tempo, vivendo o dia a dia sem ânimo, esperando, esperando... aquilo que ninguém sabia exactamente definir.