Branca aspereza, a dos longos campos de sal. Dentro da luz agressora, vislumbram-se lentos caminhos em que o branco se desdobra em cambiantes de cor. Filas de aves iguais alinhadas, sonolentas, extáticas sob o sol. Por vezes, por um som inusitado, o voo desgarrado ou em bando.
Homens de corpo tisnado fazem o ofício de “lavrar” os campos de sal. A luz reflectida fere-lhes os olhos e curte-lhes a pele. Como se com o próprio sal a esfregassem. Criam montes brancos, cintilantes, que aguardam que outros homens os transportem. E o ciclo recomeça nas salinas onde ainda o sal não se adivinha. Lentamente, à superfície da água, separa-se uma fina película como gelo quebradiço. É cuidadosamente tratada, orgulho daqueles homens calejados. Chamam-lhe a flor do sal.
Homens de corpo tisnado fazem o ofício de “lavrar” os campos de sal. A luz reflectida fere-lhes os olhos e curte-lhes a pele. Como se com o próprio sal a esfregassem. Criam montes brancos, cintilantes, que aguardam que outros homens os transportem. E o ciclo recomeça nas salinas onde ainda o sal não se adivinha. Lentamente, à superfície da água, separa-se uma fina película como gelo quebradiço. É cuidadosamente tratada, orgulho daqueles homens calejados. Chamam-lhe a flor do sal.
22 comentários:
Trabalho duro, este. Mas belo! Como o teu texto, a homenageá-lo:))
Beijo
Do mais puro e fino
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o que aqui nos deixas
bjo doce
de volta
Nas salinas de Nacala (Norte de Moçambique), cheguei a assistir estes rituais...
E o que me ficou em memória, foi a paisagem em si. O sol de fim de tarde, céu quente reflectido nos espelhos cristalinos, descobertos por montinhos brancos.
Gostei desta edição.
:)
Sempre foi um trabalho que me encheu de curiosidade: como extrair o sal.
Beijinhos e bom fim-de-semana
o sal da vida :-)
beijinhos doce fim-de-semana
Linda homenagem!
Lindo texto!!!
Lindo isso tudo por aqui...
Bju e obrigada por retribuir a visita!
Um belo post a homenagear o trabalho ainda artesanal. Tenho aqui perto uma pérola de minas de sal extraído longe do mar e é uma pena que a autarquia não se decida a proveitar da melhor maneira esta preciosidade. De qualquer forma, convido-te a uma passagem por Salinas de Rio Maior, se alguma vez fizeres Norte/Sul pela Nacional 1.
Um abraço
"Vos sois o sal da terra"
"Se o sal perder o seu sabor com o que se ha-de salgar?"
Bela foto.
Beijinhos
bom fim-de-semana
Orgulho para quem olha essa "flor de sal" com olhos de uma humanidade poética. Belíssimo!
Um trabalho extenuante mas que, visto pelas tuas palavras, é cheio de poesia e de belos momentos.
Gosto do nome: FLOR DE SAL. Como um renascer da queimada.
Muito expressivos o texto e a foto.
Beijo.
Belo e significativo o contraste entre o título e a última frase. Talvez porque uma flor será símbolo de macieza.
Explêndido...!
Doce beijo
transportaste-me para as salinas da minha infância. grato, de coração.
fica o meu abraço fraterno.
a flor do sal... a flor da pele!...
texto muito belo. com um vago sabor "realista" que muito me agrada.
beijos
Olá vida de vidro!
Uma salina é uma «pirâmide» de surpresas e terá a sua apoteose na flor do sal.
Estarás de acordo comigo, tão deslumbrante, o sal, e todo o seu processo e, no entanto, levanta-nos tantos problemas, mesmo quando o seu consumo nem tiver sido exagerado.
Bj
como pode a imagem de um duro trabalho fazer os nossos olhos brilhar?
o texto?! branco e refinado.
um abraço
luísa
é bom haver quem se interessa por "estas gentes" e pelo seu árduo trabalho.
...a beleza da paisagem na qual, inconscientemente ?, se movimentam.
(...)Homens de corpo tisnado fazem o ofício de “lavrar” os campos de sal. A luz reflectida fere-lhes os olhos e curte-lhes a pele. Como se com o próprio sal a esfregassem. Criam montes brancos, cintilantes, que aguardam que outros homens os transportem.
Lindo o teu post, bela homenagem...por isso é bela a flor do sal.
Adorei as fotos. Jhs muitos
O sombras abriu de novo.
Gosto das paisagens salinas e de textos que abordem esta temática.
Quando é tão bem escrito como o teu, ainda gosto mais.
Em tempos (talvez há 3 anos que o publiquei) escrevi um texto onde me referia à flor de sal (a maioria das pessoas nem sabe o que é...).
O texto era assim:
"A noite passada levantei voo e vi-te no meu mapa dos sentidos. A imagem que percebia era forte. Seria o indício da saudade na espera que consentes? O sintoma dos ciúmes que te assaltam? O anúncio das certezas que nos unem?
A noite passada voei para ti. Engoli a distância num tempo sem horas que não durou mais que um instante e descobri-te menina-mulher ainda acordada da noite passada. Em que sonhaste, acordada, com a minha chegada.
A noite passada corri para ti. Levei-te flores que roubei do jardim que criaste para mim. Nem uma ficou para que a falha não fosse notada. Pousei-as no chão à volta de ti borboleta.
A noite passada sonhei que era um passarinho. Fui ver-te desperta à espera de mim. Matar-te a saudade que há-de ter fim. Beber-te o ciúme que queima o teu peito. Encher a tua arca de corsária de certezas sem causas sabidas.
A noite passada derramei orvalhos na Flor de Sal que há nos teus olhos, espelho de ti. A noite passada salgaste os meus lábios sedentos de ti. A noite passada bebi o sal que te ofereci. A noite passada perdi-me em ti."
Espero que gostes.
Beijinhos.
o sal da vida !
é duro este trabalhar, mas o teu texto encanta, faz transparecer os montes brancos, como montes de cristais
flor de sal, deslumbre do olhar...
é sempre um prazer ler-te vida de vidro, estar e sentir-te.
ternamente deixo o meu abraço, onde o carinho existe
um beijo salgado!
lena
Cada vez que regresso a este pequeno espaço de tão grande sentimento, volta-me a nostalgia de bons tempos na blogoesfera....
Ainda bem que conseguiste fazer da "Vida de Vidro" uma reserva natural da arte de bem escrever.
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