segunda-feira, março 21, 2011

Pelo poema


by Sam Taylor

Pelo poema fui onda deslizante
folha de árvore nos braços do vento
barco à toa nas margens do rio
Pelo poema vivi sonhos improváveis
vi-me só em mil espelhos quebrados
fui idêntica a mim e inventei-me
No poema me perdi e me encontrei
e na pele das palavras me envolvi
cobrindo a nudez que queria expor
ilusão de sentidos meros enganos
sobre as almas que de mim nasceram
nas eternas asas etéreas do poema.



[Hoje, Dia Mundial da Poesia]

terça-feira, março 08, 2011

O que são as mulheres?

Porque é Dia Internacional da Mulher e um amigo me enviou este presente, partilho-o com todas e todos, numa homenagem às mulheres e aos homens que sabem o que elas são.









"Não tenho filhos homens, mas se os tivesse, e um deles me perguntasse,
perante as coisas da vida, o que é uma mulher, dir-lhe-ia,
mesmo sabendo que não sei coisa nenhuma, que as mulheres:


São seres feitos de estrelas, de vento, de sol e lua,
moldados por tempestades e pelo sopro divino.

São anjos que nos protegem e demónios que nos tentam,
deixando-nos dominados se as provocamos sem querer.

São o corpo que tomamos quando elas querem assim e
a alma que não logramos aprisionar mesmo querendo.
São as mãos que acarinham e nos deixam sem acção,
ou se a acção nos consentem nos deixam enlouquecidos.

São nosso porto de abrigo onde as amarras nos prendem
depois de termos passado pelo bramido do mar.
São o repouso que queremos depois das guerras que vamos
provocando sem razão.

São guardiãs do passado, as obreiras do presente, as sibilas do futuro
já que tudo lhes pertence, mesmo que a gente não queira.
São o melhor de nós mesmos, mesmo que a gente não saiba
ou não queira admitir.

São as mães que nos geraram e nos protegem e amam
mesmo quando a gente estraga o amor que nos dedicam.
São as mães dos nossos filhos, filhas, irmãs e amigas.
São as nossas companheiras nos caminhos que trilhamos
de que sentimos a falta se abalam do nosso lado
e nos deixam sem a força que sustenta os nossos sonhos.

As mulheres são afinal a outra face de nós
completando o padrão criado pela natureza.

Podem ser tudo o que queres, o que sonhas e desejas,
um bocadinho de inferno ou um pedaço de céu.
Podem ser tudo na vida ou não ser coisa nenhuma,
como tu ou como eu."


Luis Filipe Duarte

domingo, março 06, 2011

Domingo sem sinos

by mar de sonhos


Naquele domingo acordou com a memória dos sinos das manhãs antigas. Já não tocavam, escondidos algures entre camadas de vida vivida que se acumulavam. Sabia que isso não era sinal de que os sons, os cheiros, as cores, que faziam dos dias de outrora hinos à alegria de viver, já não existiam. Já não os sentia e o que se deixa de sentir raramente volta. Olhou a janela aberta para o mundo lá fora. O renascer da terra já estava no início. Era um pulsar de vida que entrava pela janela. Sem sinos, sem aromas inebriantes. Apenas a afirmação de que tudo se renovava, tudo se modificava, mas valia a pena ser experimentado. A certeza de que a vida era aquilo mesmo, um dia de cada vez, ainda que as manhãs não se enchessem do repicar dos sinos, nem as noites fossem cenários de fogo de artifício. Respirou o ar já meio doce, anúncio do aproximar da primavera. Uma dor subtil insinuou-se, lá muito no fundo dos pensamentos que se distendiam. Embalou-a naquela reflexão lúcida que se apoderava de si e soube que estava próximo o dia de renunciar. Talvez não fosse no dia nem no mês seguinte. Um dia de cada vez... Quando chegasse a hora, teria a mesma certeza que tinha agora, do eterno silêncio dos sinos.