sexta-feira, dezembro 28, 2007

Peregrinação terminada




Na peregrinação de fim de ano que fiz pelos meus antigos blogs ainda activos, claro que este não podia falhar. Mas só acrescento ao já dito pelo Natal, o enorme prazer que foi encontrar aqui um espaço novo, com gente diferente e alguns amigos antigos, indispensáveis. Um espaço onde a escrita mudou. Se para melhor ou pior, não sei. Mudou e às vezes isso é o fundamental.

Para quem ainda aqui passa, para todos os que comentaram aqui ou por mail o meu post anterior, um beijo com o desejo sincero de um Feliz 2008.

sábado, dezembro 15, 2007

Natal




Esta foi a minha foto para o tema de Natal do PPP e é o meu voto, nesta época em que, ao lado da felicidade de uns tantos, muitos são os que, por razões diversas, não têm uma luz que os aqueça e lhes dê esperança.
Para todos os que aqui têm passado, deixado comentários e enviado mails a que eu não respondo (desculpem...), desejo um Natal em paz e pleno daquela doçura que não vem dos sonhos nem das rabanadas. E um 2008 cheio de sonhos realizados.

segunda-feira, novembro 12, 2007

Vou

Dei por mim hoje andando de pés nus sobre vidros quebrados. Não senti dor. Nem vi o vermelho do sangue. Dizem que isso é mau. Eu acho que é auto anestesia. A escrita só pode ter sentido quando se sente o bom e o mau da vida. Que se balançam, se completam. Por isso, vou partir até encontrar o equilíbrio. Até sentir a dor dos vidros quebrados e o gosto do calor do sol nos pés nus. Não sei onde, não sei quando. Não sei.



[Deixo um beijo a todos os que foram o suporte afectivo e crítico deste blogue]

quinta-feira, novembro 08, 2007

Um porquê



Há um novo porquê suspenso no tecto
cada vez que o olho
quero dizer que esses são os dias bons
aqueles em que as perguntas se renovam
sem resposta necessária
ou suficiente. Sei lá das suficiências
ou necessidades.
Sei dos dias cheios de porquês
que se balançam como se quisessem
gerar ideias.
É talvez por isso que existe o tecto
não para me tapar as dúvidas.
Lá fora o dia juntou todas as cores
branco límpido.
Se perguntasse para onde foi o azul
ou o dourado
estaria a inventar mais um porquê
e não posso.
A regra manda que se suspendam do tecto
para que os dias possam ser brancos
e não haver dúvidas.

segunda-feira, novembro 05, 2007

intensidade




… depois aconteciam aqueles dias em que não sabia se queria voltar. recomeçar era-lhe penoso. pegar nas pontas que tinham ficado soltas e tentar atá-las. estava a faltar-lhe o que sempre lhe fora essencial. intensidade. de dar-se aos outros. de fazer o que havia que ser feito. repetia gestos maquinalmente com enfado. percorria o labirinto dos dias, os medos escondidos em pequenos recantos. nem os medos quebravam o tédio. só uma vontade a percorria: ir-se embora. para onde pudesse sentir da única forma que aspirava. intensamente.

terça-feira, outubro 30, 2007

Folhas douradas




Não há dourado
Como o das folhas secas
Na margem da vida
Sol já vivido de dias inteiros
Futuro de alegrias verdes
Doces de mel nas mãos do passado.
Belos são os tons das tardes que tombam
Cedo
Sobre um mar de azul saturado
Onde as sombras marcam as rugas das ondas.
Vejo olhos brilhantes na espuma que bate
Em rochas de outrora
Como os sonhos que lentamente
Se espreguiçam na doçura do poente
Sabendo que em breve partirão
Levando-nos com eles nos barcos inventados
De onde não há regresso.
As tardes são cada vez mais curtas
E os caminhos feitos para os nossos pés
Têm longos tapetes de folhas de Outono
Douradas.


[Volto para a semana. A quem puder, desejo umas boas mini-férias.]

domingo, outubro 28, 2007

Hoje




Hoje queria um dia feito de horas de oferecer. Porque há dias diferentes. Dias especiais em que queremos encomendar o sol, a luz do horizonte, a doçura do ar. Tudo feito por medida, ao jeito de quem o irá desfrutar. Queria oferecer um dia hoje. Um dia perfeito. Embrulhado em momentos guardados. Talvez com uma fita cor de certeza calma, e um laço pleno de voltas cúmplices. Só um dia. Dado assim, porque hoje é dia de dar só um pouquinho mais.

quinta-feira, outubro 25, 2007

o vazio




da dádiva de mim trago
a certeza funda e calma
digo-te
só o amor preenche
o lugar vazio da alma.

Setembro 2005



o vazio. como um buraco no peito. um bocado que de lá foi tirado. não dói. é a um tempo suave e amargo. mas não dói. infiltra-se em nós e fica no ar. como algo que devia estar e não está. arrepia-se a pele ao de leve. encolhemo-nos um pouco para guardar o calor de um qualquer momento que em nós ficou. lentamente, o vazio vai sendo preenchido pela rotina das horas. o frio desaparece e deixamos que o conforto nos envolva. até que, vindos do nada, surgem aqueles momentos em que o vazio fala outra vez. baixo. murmura. queremos enxotá-lo como uma mosca incómoda. deixa-se ir. como tudo o que tem a certeza de voltar. quando menos esperamos.

segunda-feira, outubro 22, 2007

Outro poema de Outono




um dia vem o outono falsamente sedutor
embala-nos em tons de terra mãe
em luzes veladas que não ferem
os olhos já cansados do Verão
a ele nos entregamos sem pudor
esperando renovar tranquilo da alma
pelo bálsamo das águas que caem

um dia vem o outono
em ramos de árvores penduramos sonhos
a letargia dos dias cerra-nos os olhos
talvez não acabe
podem não vir tempestades
será para sempre a luz dourada…

um dia parte o outono
sem que um aviso toque o sono terno
e temos a surpresa de acordar
na plena inclemência do Inverno

quarta-feira, outubro 17, 2007

Tanto...




Tanto. Ou tão pouco. Não se quantifica. Qualifica. Ou nomeia. Por aqui caminhamos. Sem conhecer o caminho. Talvez à deriva. Talvez bem presos ao chão. Lavamo-nos no rio de que não sabemos o caudal. Colhemos os frutos das árvores sem nome. E sentimos que é tanto… Ou tão pouco.

domingo, outubro 14, 2007

Incerteza




Entre o dito
e o que falta
há o espaço
da incerteza.
O caminho
inseguro
interdito
o meu trilho
de tristeza.
Passos dados
pela margem
desse leito
de ternura
onde me deito.
E o que falta
no já dito
é o caudal
que corre frio
no meu peito.

Escrito em Dezembro 2005. Mas curiosamente actual.

quarta-feira, outubro 10, 2007

A hora da água




A minha hora é a da água. Líquida, solta em pequenos regatos ou caudalosos leitos. Por nascimento. Sou água de Março (saúdo-te Elis!). Respiro na hora do ar, aquela em que tudo se revela límpido e claro. Ardo nas horas de fogo em que em que a paixão se revela essencial à vida. E misturo-me com a terra quando é tempo de procurar a força que nela se contém. Mas vivo nos líquidos sentimentos que molham corpo e alma. Na fúria de escavar o caminho ou na doce calmaria dos territórios a que chamo meus. E procuro o azul infinito. O do mar. Definitivo. Vivo na hora da água.

domingo, outubro 07, 2007

Entre a alma e o corpo




Fecho a janela do pátio inventado
Preciso ficar no escuro agora
Por entre as coisas que guardam o silêncio
Ásperas ao tacto
Nos dedos só resta a memória
Do que ainda viaja entre a alma e o corpo
Habituo os olhos à ausência de miragens
Para me iluminar de realidade
Assim será o recuar da escuridão
Sem arco-íris
Luz velada de dias quietos

quinta-feira, outubro 04, 2007

a (re)invenção da linguagem




... e chega um tempo em que procuramos as palavras certas. as que não digam demais. as que não prolonguem a distância. reinventamos a linguagem, como se fosse possível dizer o mesmo, sem o dizer. tacteamos reacções a cada frase sem conseguir adivinhar quais são os termos proibidos. nessa incerteza de palavras erradas, não atingimos a comunicação. vagueamos entre ideias e a sua expressão. sem que o que dizemos seja o que queremos dizer. talvez os códigos desta linguagem reinventada venham a ser perceptíveis para quem os escuta. pela necessidade de um novo entendimento.




Foto by B Berenika

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Hoje, lá no outro lado, há um bocado de vaidade...

domingo, setembro 30, 2007

A canção da chuva




A chuva tem um poder. Leva-nos, em viagens interiores, a lugares adormecidos nos dias de sol. Descobrimos veredas sombrias. Ou caminhos largos de amor à vida. Potencia o que em nós está dormente. Por dentro. Acentua a dor, dá asas à alegria. Tanto nos apetece deixá-la escorrer pelo corpo dançante como protegermo-nos num casulo sem abertura. A chuva cai. É o que dizemos. A chuva entranha-se. Na terra e em nós. Tal como arrasta terras e lama, revolve sentimentos. Perguntamos. Perguntamo-nos. Sobre a vida. Sobre nós. Por vezes não queremos resposta. Talvez só a que vem da canção que soa nos vidros. Murmura-nos palavras de tristeza. Conforto. Purificação. A chuva é imprevisível.

quarta-feira, setembro 26, 2007

As tardes




Agora as tardes já se perdem
no vulto dos barcos no ocaso.
No sonho de navegar olhos vagueiam
por letras do passado em corpo lasso.
Há rotas por explorar em fim de dia
antigos risos reflectem o sol poente.
Soltam-se sonhos
lembranças vagas de outra gente
que não nós,
ancorados na tarde da melancolia
à margem de uma vida já urgente.


Junho 2006

domingo, setembro 23, 2007

Vestígio ténue




Escuto os sons da casa
Murmúrios
Retidos nas dobras do tempo
Já a voz não ilumina
As sombras que se deitam nas paredes
Paira um vestígio ténue
Dos aromas vibrantes de outrora
Talvez esteja em mim
Guardado
Sou eu mais que um sacrário
De lembranças
Que se consome passo a passo
Na senda de duvidosa redenção?

quinta-feira, setembro 20, 2007

desertos




há desertos construídos em nós. por nós. áridos de desesperança. escondemo-nos neles. guardamos neles a tristeza de pedra que gerámos. e fechamos as portas. só nós? nós, sós.
um deserto não tem portas. dizem. aqueles que não sabem ser possível abrir a porta do deserto. devagar. muito, muito devagar. a água entra. balsâmica. e a porta abre mais um pouco. até que já não vemos o deserto. apenas o céu azul com nuvens de melancolia.

segunda-feira, setembro 17, 2007

(Re)escrever caminhos




Regresso. Como um artista que acaba sempre por regressar ao palco, mesmo que tenha de trabalhar sem rede. Tenho só uma certeza. Não vou escrever a página em branco. As palavras não vão refazer o poema deixado por adivinhar. Neste momento, espero que as palavras me ajudem e escrevam o meu caminho. Deveria ser possível. Deixar as palavras juntarem-se na criação de um caminho futuro. Usar a escrita para o ir percorrendo, passo a passo… Fantasias. A verdade é que quem ama a escrita, acaba por voltar. Como o artista. Neste palco ou em qualquer outro, tentarei (re)escrever caminhos. Sem poemas, por agora.




Foto: Antuérpia, junto da Vleeshuis

terça-feira, agosto 28, 2007

página em branco

esta página fica em branco. porque quero. ou porque é preciso. branco de não haver futuro. de não saber se há. nem negro de trevas. nem cinza de indefinição. margens brancas de tempo esquecido. linhas brancas de palavras apagadas. sigo em frente. sem tempo de voltar. um dia talvez seja possível. escrever nas linhas brancas, digo. se as letras se juntarem. se encontrarem o seu caminho para refazer o poema.


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Faço aqui um intervalo. Sem prazo para voltar. Talvez as letras encontrem o caminho... Obrigada a todos os que por cá passam.

sábado, agosto 25, 2007

Como uma ilha...




Banhas-me assim
Em ondas de amor morno
Passadas que são as marés vivas
E as tempestades da paixão
Um dia dirás de mim ter sido ilha
Fechada entre as brumas e o mar
Guardando segredos quietos
Caladas crateras de alma
Que só conseguiste espreitar
Porque as ilhas vivem dentro delas
E ao mar entregam toda a solidão
Banham-se nas ondas de amor terno
Morno
Na praia esperam a volta da maré.


Foto: S. Miguel, Açores, miradouro de Sta Iria

quarta-feira, agosto 22, 2007

The dark side of the moon




Certo. Todas as coisas têm dois lados. Ou vários. Desde os objectos às pessoas. Seria monótono, dizem. Lados iguais. Ou somente coerentes. Apagaria as boas e as más surpresas. Vejam a lua. Tão bela no seu lado visível. A magia do luar. Poética. Não pensamos no lado oculto. Uma surpresa. Ganham-se as diferenças num jogo de luz e sombra. E as angústias de espreitar o lado negro. Diz-me. Vê-se novamente o luar? Depois de ter ido até ao dark side?




Foto by Nuno Milheiro

sábado, agosto 18, 2007

Compasso de espera




Passam no espaço
os passos de alguém
que não deixam traço
da espera sem fim.
Compasso de espera
sem espaço em mim.
E quando os passos
não forem quimera
será que os seus ecos
dão sentido à espera?

Março 2005

quarta-feira, agosto 15, 2007

Palavras presas




As palavras presas. Nem um som as articula. Conversas cruzadas iguais. Cansaço das tardes. Sobretudo das tardes. E tudo o que já não será dito. O tempo que foge. As horas que se arrastam. Os corredores vazios. A inquietação. Nenhum dia se repete. Nenhuma palavra será recuperada. Liberta. Outras serão ditas. Diferentes. Nenhuma palavra é igual. Cada uma se perde com o olhar que a diria.

domingo, agosto 12, 2007

A casa escondida




E havia aquela casa escondida. Um mundo de mistérios e interrogações. Um labirinto não visível a quem passava ao longe. Só perto. Muito perto. Com os anos a casa tinha-se misturado com o meio. Abraçava as árvores e o mato que a rodeavam. Deixava entrar o sol que nunca a desvendava por inteiro mas lhe iluminava os dias. Só ele a tornava visível. Parcialmente. No interior a sombra aninhava os segredos por conhecer. Quem se aproximava julgava vê-la. Uma casa sem nada de especial. Não sabiam o seu interior. Escondido.

quarta-feira, agosto 08, 2007

Verde azul




não sou o meu sonho. verde azul. da cor dos olhos dos pastores que tocam flauta. e das princesas que choram. não entram na minha história reis tiranos. nem belas encostas de prados verdes. ou vales profundos onde as lágrimas caem. na terra que piso não brotam flores azuis rosa brancas. nem a água ferve. no desvendar de mistérios inquietantes. e as gentes não se sentam a olhar o mar. durante horas. como se lhes escutasse os segredos. sou de terras castanho verde prosaico. de uma paleta limitada. onde as lendas são de castelos e mouros. e heróis da cristandade. terras de gente de outras cores. olhei o meu sonho. nos olhos tinha água verde azul. encontrei a inquietação da beleza perfeita. a angústia de não poder lançar o voo sobre a paisagem. a impossibilidade de a guardar. em mim. verde azul.




Foto: S. Miguel, Açores, Lagoa das Sete Cidades

domingo, agosto 05, 2007

amanhecer




lembras-te daquele fio invisível que nos ligava nas horas de solidão? eu julgava saber de ti e tu de mim como se a distância fosse só uma metáfora. e o caminho para encontrar o outro estivesse ao alcance de um fechar de olhos. para ver por dentro. era então o fio que nos unia para lá de toda a saudade. amanheci no escuro da noite. dizia-me o pesadelo que o fio se tinha partido. e eu às voltas. tonta. de não encontrar o caminho para ti. e era escuro. como se todas as luzes estivessem escondidas na bruma. talvez tenha arranhado o corpo. as mãos. não sei. a alma. em vão. a luta. as brumas. o sal molhado. acordei do pesadelo quando fechei os olhos. para ver por dentro. o fio estava suspenso. mas firme. vi-te.

quarta-feira, agosto 01, 2007

Os deuses da ilha




A ilha acorda-nos estendendo o braço de luz velada pela janela do quarto. Há sempre o canto dum pássaro louvando o sol ou um simples piar melancólico por entre a neblina. Os deuses da ilha são caprichosos. Choram e riem com a mesma facilidade, tornando os dias imprevisíveis. Irão desvendar os tesouros ocultos no corpo da terra ou escondê-los-ão na bruma? Não sabemos. Só podemos estar atentos aos sinais e aproveitar a sua boa disposição para subir o mais alto possível e ver… Tentar assimilar a beleza, tão intensa que chega a doer. Nesta viagem de emoções, o olhar que mais importa é o da alma. É com ela que vemos vales, montes, lagoas e o mar, o mar, o mar… É com ela que sentimos a morna humidade que nos envolve o corpo, caminhamos sobre as pedras negras vindas das profundezas escaldantes da terra e acabamos por adormecer de cansaço físico e emocional, escutando se o vento sopra no início da noite. Como se a ilha nos dissesse que nos espera no dia seguinte, com bruma ou claridade, com chuva ou sol. Até à despedida, que, queiram os deuses, será sempre até breve.



Foto: S. Miguel, Açores, algures no caminho...

quinta-feira, julho 12, 2007

Ser




Ser
Ser só
Ser só simples
Ser só simples solidão

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Faço aqui um intervalo, uma breve pausa. Voltarei lá para Agosto. Para todos, boas férias ou bom trabalho, consoante o caso.

segunda-feira, julho 09, 2007

Poema incerto




Parei no lugar aberto entre o dia e a luz que cai
Sem saber de longe ou perto
Nem de alegria ou tristeza
Pairo numa luz velada, um caminho de incerteza

E enquanto as horas passam e a claridade se esvai
Sinto o avanço da sombra pelo meu poema incerto.

domingo, julho 08, 2007

Mais desafios...



Chain Blog

A mateso desafiou-me para mais esta cadeia. Como é sobre cinema, não resisti.

O que é para ti um mau filme?

- Aquele em que não consigo apreciar realmente nada desde o argumento aos efeitos técnicos, passando por todas as outras componentes. É preciso que tudo me desagrade para classificar um filme como mau.


Remakes ou sequelas: havendo apenas estas duas escolhas sem opção de recusa qual assistirias?

- Não me agradam, no geral, nem uns nem outras. No entanto, há excepções. A escolher, talvez um remake, desde que o realizador fosse bom.


Que tipo de filme português gostarias de ir ver ao cinema?

- Gostaria de ver filmes que versassem a nossa história recente. Há tanto para contar! Também gostava que os filmes portugueses agilizassem a sua linguagem. Perdoem-me os “pseudo-intelectuais”. Há muitas formas de aceder à beleza estética sem parar a imagem.


Que cliché cinematográfico já não tens paciência para ver novamente?

- A redenção do anti-herói. Se é anti-herói, que o seja até ao fim.


Qual o teu fan video preferido?

- Impossível responder a esta. Há muitos que me agradam por razões diversas. Gostava de ser capaz de fazer um sobre James Dean. Um que me agradasse a mim…


A quem desafias este questionário?

- Porque sim, desafio:

Rui Luís Lima

Ant

Helena Nunes

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Página 161

Também a Minda me desafiou para dizer aqui a 5ª frase da pag. 161 do primeiro livro que tiver à mão. Então, aqui vai, de um livro indispensável que ando a reler:

"Estes ídolos medíocres reinavam sob um céu espesso, nas praças sem vida, brutos insensíveis que representavam bastante bem o reino imóvel em que tínhamos entrado, ou, pelo menos, a sua ordem última, a de uma metrópole em que a peste, a pedra e a noite teriam feito calar, enfim, todas as vozes."

Albert Camus, A Peste, ed. Círculo de Leitores, 1974

Este desafio deixo para todos os que quiserem pegar-lhe. Podem até pôr aqui, nos comentários, as vossas frases, se assim o desejarem.


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Mais uma vez, aproveito para agradecer à Hands of time e à Brisa de Palavras o facto de terem considerado este blog uma das 7 Maravilhas da Blogoesfera. Não é por desvalorizar estes prémios que não lhes dou continuidade. Apenas teria muita dificuldade em escolher. Todos são, para mim, importantes. Cada um de seu modo. Obrigada.

quinta-feira, julho 05, 2007

Haiku para uma foto (II)




As folhas douradas
Sobre o verde da água
Bebem o sol da tarde

segunda-feira, julho 02, 2007

Sob o sol, a treva...




Por vezes vemos. Por vezes passamos ao lado. Em volta era o jardim e o sol e tudo o que um domingo deve ser. E a vontade de não ver. O desejo de ir embora, passar ao de leve para a consciência não acordar. Para não despertar a angústia. O registo ficou. Quase impúdico. Invasivo. Porquê? Se tivesse uma resposta, talvez tivesse parado. Talvez não captasse o momento, quase só como uma curiosidade.

sexta-feira, junho 29, 2007

A porta




Quando fores embora
Deixa entreaberta a porta do quintal
Não tapes a entrada ao sol da madrugada
Deixa a luz da lua espalhar-se nas paredes
Como se de ti ficasse algum sinal.
Antes de partir
Guarda as palavras naquele cofre inventado
E vê se os risos se misturam com as histórias
Para que ecoe o som das gargalhadas
Presas algures num tempo passado.
E ao partir
Segue o caminho sem olhar para trás
Deixa aberta a porta do pátio onde morei
Por lá estará a linha do meu rosto
E a cor dos olhos que um dia te mostrei.

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Tenho que aqui tornar públicos mais dois agradecimentos: à Vity que deu a este blog o Fly Award e à Helena Nunes que o considerou um Blog com Grelos. Muito obrigada às duas.

terça-feira, junho 26, 2007

Da falsa doçura do ar




O ar até parece doce. Sem sabor da aragem marítima. Sei que o mar não virá hoje. Nem a brisa do monte. Nada que possa ser um sinal de harmonia. Os dias giram sem sentido ou propósito. Até que o vento vire. Até que o sol não queime. Até que o ar chegue saturado do sabor da maresia.

domingo, junho 24, 2007

Um ano por aqui…




Há um ano decidi partir de um porto muito seguro que me tinha abrigado. Tudo na vida é cíclico e tendemos a cansar-nos até dos locais que amamos e sobretudo da “formatação” que impomos a nós próprios. A minha rota trouxe-me até aqui, onde encontrei outros amigos, outros olhares, outras leituras daquilo que escrevo. A meio deste percurso, pela mão de dois amigos muito queridos, um dos quais infelizmente já nos deixou, descobri que podia fazer qualquer coisa com uma câmara fotográfica. Surgiram algumas fotos minhas e também a necessidade de fazer um outro blog mais simples, mais minimalista, sobre o que me preenche os dias através do olhar, do ouvir, do ler. Tem sido bom estar por aqui. Um prazer tranquilo de quem já conta cerca de três anos e meio de blogoesfera. Já não é uma alegria esfusiante, é o calmo desfrute do gosto pela escrita e por esta interacção que por aqui se estabelece.
Alguns amigos “antigos” encontraram o caminho. Para esses, o meu beijo especial, hoje. Para todos, muito obrigada por, durante este ano, terem passado, lido, comentado o que aqui fui deixando.



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Aproveito para agradecer ao moinante que me deu o prémio Cupido, Fonte do amor (hmmm...eu?), à Cris, ao diabinho e à Nadir que me nomearam uma das 7 Maravilhas da Blogoesfera (exagerados...) e à nomundodalua que nomeou este blog como um Blog com tomates (já tenho para a salada...). Sinceramente, a todos muito obrigada e desculpem não continuar as correntes. Quem quiser pegar nelas é bem vindo.

terça-feira, junho 19, 2007

Como se…




Um dia farei um hino à vida
Cantarão versos dentro das palavras
Nenhuma dor ecoará no espaço
Do poema.
Um dia direi que sou feliz
Sem reservas no som das entrelinhas
A cor no horizonte será o eterno
Azul.
Um dia o mundo acordará às avessas
Todos os poetas falarão de alegria
Como se essa fosse a verdade
Das coisas.

domingo, junho 17, 2007

Uma flor não é para sempre…




Caem flores no chão
geladas por um frio de abandono.
Na calçada o manto de cor desbota.
A luz do sol acarinha
o nascimento da beleza de outras flores.

quinta-feira, junho 14, 2007

Linhas paralelas




Linhas paralelas são as que, existindo no mesmo plano, nunca se intersectam. Diz-nos a geometria. Mas o olhar ensina-nos que se encontram num qualquer horizonte infinito.
Vivemos em linhas paralelas, fora de qualquer espaço geométrico. Atingindo o infinito contido em pedaços escassos de dias finitos.




Foto by .béhel.

segunda-feira, junho 11, 2007

A névoa




O dia era apenas um véu que escondia a luz forte da paisagem. Nem desejava outra coisa, sentindo nos olhos o ardor de tentar ver demais. Para lá dos limites do possível. Deixou-se diluir na névoa de não saber de si própria, de ignorar o que sentia. O vento do tempo passaria, limpando o horizonte. Levaria consigo aquela fina poeira de líquidos sentimentos. Que partissem, não os entendia! Queria ver claro, mas só quando a luz não lhe ferisse os sentidos. Algo dentro de si não estava preparado para a luz forte que a verdade projecta.



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A todos os que comentam o que lêem e não fomentam guerras nos espaços dos outros, peço desculpa pela moderação nos comentários. Assim que o problema que a motivou se resolver, tudo volta ao normal.

domingo, junho 10, 2007

Desafios

A brisa de palavras passou-me a batata quente (é mesmo assim que se chama o desafio) de divulgar aqui alguns livros que tenha lido. Agradeço-lhe ter-se lembrado de mim e vamos lá ver se não queimo as mãos…

Referências:

Os livros a que volto constantemente. Aqueles onde encontro sempre algo que responde às minhas interrogações. Haverá outros, mas saliento estes:

- Fernando Pessoa, todos, tudo.
- Sophia de Mello Breyner, Obra poética
- Milan Kundera, A Insustentável Leveza do Ser
- Antoine de Saint Exupéry, O Príncipezinho

Livros que tenho entre mãos ou li recentemente:

- Al Berto, O Medo
- Isabel Ruth, Fotopoesia
- José Saramago, As pequenas memórias
- Mia Couto, Na berma de nenhuma estrada
- Ondjaki, O assobiador
- Ondjaki, Há prendisajens com o xão

De encontros muito gratificantes aqui na net:

- Antologia Poética Amante das Leituras
- Manuel Filipe, Tempo de cinzas

E como mandam as regras passo a batata quente a três bloguistas que, tenho a certeza, terão toda a facilidade em escolher, de entre os muitos que leram.

JPD, do Mel no Frasco
Herético, do Relógio de Pêndulo
Maria Carvalhosa, do Thornlessrose

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Também a JoaoJR me desafiou para a cadeia dos memes. Agradeço-lhe muito a lembrança e remeto a minha resposta para este post.

quarta-feira, junho 06, 2007

As cores da vida




O calendário à minha frente separa os meses por cores. Janeiro é de um azul quase metálico, gelado. E as cores vão-se tornando progressivamente mais quentes, até que, atravessando os arroxeados do Outono, atinjo um outro azul mais profundo, mais aconchegante, o de Dezembro. Detenho-me em Março, o meu mês, já a sair dos azuis para o verde e Abril verde de esperança.
Junho é verde-amarelo-mostarda. Cor estranha a abrir a paleta dos meses quentes. Uma mistura de Primavera e Verão, com dias longos de claridade. Em breve o Verão se instalará e os dias passarão a laranja avermelhado. Ou mesmo vermelho. No calendário, o vermelho não existe. Politicamente (in)correcto? Fico a olhar um laranja-castanho que não me lembra muito os dias escaldantes dos últimos verões.
Caminhamos para o solstício, tendo cumprido meio ano deste calendário inventado que nos rege. O tempo é um contínuo. Ou uma sucessão de ciclos. Neles percorremos todas as cores da paleta da vida. Sem nenhum calendário previamente organizado.

sábado, junho 02, 2007

Silêncio nos degraus da escada




Nos degraus da escada que hoje não subiste
Escuto o silêncio
Traz no ventre o presságio de dias convexos
De armadas defesas contra a fúria dos ventos
Hoje estou aqui
No cimo do mirante da vida
Ouvindo só zunir sibilante o eco
Do silêncio
Abana o vento as folhas do tempo
E nem um som se ouvirá
Nem o canto do pássaro na margem do dia
Nem o grito que sobe do mar
Espero no silêncio da escada de pedra
Que o som dos teus passos o venha quebrar.


Foto by Ja Fox

quarta-feira, maio 30, 2007

Haiku para uma foto (I)




No limite seco do caule
A folha virada para o céu
Nem uma sombra projecta

domingo, maio 27, 2007

Essência




Não sou mais
que a palavra escondida no meu beijo
emprestada à carícia dos meus dedos
reflectida em silêncio nos teus olhos.

Janeiro 2006

Foto by Sophie Thouvenin

quarta-feira, maio 23, 2007

Alma nua




Pés descalços. Pedia-lhe a areia, suplicava-lhe a espuma das ondas. Mas a mente não obedecia. Algo lhe dizia que não eram os pés, não era o corpo que devia desnudar. Precisava despir-se de muito mais para absorver toda aquela luz. Precisava tirar de si tudo o que pudesse tapar a transparência do azul. Docemente, como quem se entrega a um amante, despiu a alma e lançou-a na imensidão de água. Sem um traço de lama, sem um véu de tristeza. Nua.

domingo, maio 20, 2007

A corrente do tempo




E assim se juntam os dias na corrente do tempo. Por vezes dizemos: “Já aqui estive. Já aqui fui eu, sem mim. Já aqui me perdi". São esses os dias brancos, a que não pomos nome porque não os queremos recordar. Mas encontram o seu caminho nos meandros da memória. E conseguem acordar a lembrança de outros dias, a colorir os dias brancos. Somos assim, balançamos entre o que chamamos cor e o que a reflecte ou a absorve. Branco e negro. Luz e trevas. Salpicados da cor de muitos dias.

quinta-feira, maio 17, 2007

Grito preso




O Grito, óleo sobre tela de Edvard Munch


se o grito saísse
se o som alcançasse o longe mais longe
se a voz me ajudasse
e lançasse o eco por esses caminhos
talvez se soltassem os nós que atam
o peito que arde
talvez se rasgasse o véu que tapa
os olhos que doem
talvez visse hoje no ecrã cinzento
a vida a cores
diferentes.
se o grito
da voz
e o eco
no peito
e as cores
nos olhos
talvez…


[Em Agosto de 2005 escrevi este texto. Agora, sem grande vontade de escrever, pareceu-me adequado. E já que por aqui passou Munch na sensualidade, porque não na angústia?]

terça-feira, maio 15, 2007

A noite




Hoje anoiteceu de manhã. É sempre noite quando se perde um amigo. Não quero dizer adeus. Fica o som e a imagem. Ponte de união. Até já.

segunda-feira, maio 14, 2007

"Meme" - resposta a um desafio

O JPD desafiou-me a continuar mais esta cadeia da blogoesfera. Assim...

*Um "meme", termo cunhado em 1976 por Richard Dawkins no seu bestseller controverso The selfish gene, é, para a memória, o análogo do gene na genética, a sua unidade mínima. É considerado como uma unidade de informação que se multiplica de cérebro em cérebro, ou entre locais onde a informação é armazenada (como livros) e outros locais de armazenamento ou cérebros. No que respeita à sua funcionalidade, o "meme" é considerado uma unidade de evolução cultural que pode de alguma forma autopropagar-se. Os "memes" podem ser ideias ou partes de idéias, línguas, sons, desenhos, capacidades, valores estéticos e morais, ou qualquer outra coisa que possa ser aprendida facilmente e transmitida enquanto unidade autónoma.

Fonte: Wikipédia



Alguns têm na vida um grande sonho e faltam a esse sonho. Outros não têm na vida nenhum sonho, e faltam a esse também.


Bernardo Soares, Livro do Desassossego



[Perdoem que não escolha ninguém para continuar esta cadeia. Agradeço ao JPD e deixo-a para todos os que por aqui passam.]

sexta-feira, maio 11, 2007

Variação sobre a Madonna de Munch




Madonna, óleo sobre tela de Edvard Munch


Senhora
Madona dos sonhos intensos
Proibidos
Deusa feita do barro
De todas as mulheres
Solta os cabelos nos ombros
Enfeita o colo onde começa
A raiz da terra.
Senhora mulher e matriz
Amante desejo dos teus filhos homens
Dá-nos o sol do teu corpo
Pecadora sem mácula nem castigo
Liberta-nos do mal
Madona!

terça-feira, maio 08, 2007

Erro de perspectiva




O céu, lá em cima. A árvore, de ramos frágeis, enfeitou-se de folhas jovens e tentou subir. O céu, azul, inatingível. Ergueu os braços ramos até ao limite. Nem conseguiu tocar o tecto azul polvilhado de algodão. Mas o que tinha sido construído, ali mesmo ao lado, parecia-lhe sólido e enorme. Atingindo com segurança aquele céu desejado. A árvore invejou aquele bloco que lhe dava vertigem olhar. E conformou-se com a sua incapacidade. Nunca entenderia que, na base do seu desgosto, estava apenas um erro de perspectiva.

sábado, maio 05, 2007

Voltara a Paris




Pensava na vida, enquanto ia olhando as publicações que os bouquinistes expunham. Gostava do passeio mas perguntava-se o que levava aquela multidão de países vários às margens do Sena. Tudo aquilo lhe era familiar desde criança. Falhava-lhe o entendimento da magia que os estrangeiros encontravam naquele estendal de livros antigos, posters, postais. De câmaras em punho, fotografavam, filmavam… Encolheu os ombros. Mais valia ignorar aquele burburinho.
Voltara a Paris. E pensava na vida, claro. Na mulher e no filho que tinham ficado na terra onde trabalhara. Na inesperada “deslocação” da empresa que o deixara sem grande margem para os sustentar. Parece que era uma tendência em toda a Europa. Que lhe interessava isso? Nunca ligara muito à política, menos ainda às tendências da economia.
Voltara a Paris. Tinha um quarto nos subúrbios e todos os dias vinha procurar uma oportunidade de trabalho. Nada tinha aparecido e começava a desesperar. Olhava os que dormiam na rua, nas estações de comboios. E tinha um arrepio. Para arejar a cabeça, dava longos passeios nas margens do Sena. Olhava toda aquela gente, animada, feliz. Porque viriam até ali? Nunca tinha tido a ambição de viajar. A mulher, sim, queria ir de férias para outras paragens. Agora, ia ser complicado.
Voltara a Paris. Estava tão absorvido nos seus pensamentos que nem ouviu o barulho do disparo da câmara. Mas ainda viu que mais uma turista estava a fotografar e parecia apontar na sua direcção. Afastou-se, farto de tudo aquilo. Era só o que faltava, ficar nas fotos de uma fulana qualquer. Vida do diabo!

quarta-feira, maio 02, 2007

Contradição





Não sou a imagem que crio. Mostro frequentemente de mim o reflexo errado. Resolvo, passo a passo, as minhas contradições intrínsecas. E crio outras. Assim sou, de tentativa em tentativa, à procura da minha própria coerência.


Foto by Anton Zarev