sábado, abril 18, 2009

naquele dia



talvez o mundo tivesse caído naquele dia. o seu mundo, pelo menos - não brinques, Filomena, não rias - e porque riria? não havia pessoas eternas, afinal. não, não havia, porque a avó (já bis, já avó do pai) estava lá dentro tapada com o lençol - Filomena, fica no quarto! - mas tinha que espreitar. porque não se mexia? não falava? nem os olhos se prendiam nos dela. húmidos de ternura - não chores minha menina. minha menina - e agora ia ser a menina de quem? tinham pressa que crescesse. dez anos, perdidos entre adultos - Filomena, estás a sonhar? - estava. tanta vez. agora os sonhos esbarravam naquilo. no que julgava não poder acontecer - ai, esta rapariga no que andará a pensar? - em nada, mãe. em nada, pai. só os porquês. os porquês que seguiriam com ela toda a vida. não havia pessoas eternas. também eles. um dia. pai, mãe. e o frio, o susto, a angústia. talvez sim. talvez o mundo tivesse desabado naquele dia.

30 comentários:

  1. Da beleza enxuta destas palavras, destes sentimentos.

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  2. QUERIDA AMIGA, BELA PROSA... BELEZA SEM FIM... SIMPLESMENTE SUBLIME!!!
    AMIGA, BOM FIM DE SEMANA, BEIJINHOS DE CARINHO,
    FERNANDINHA

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  3. QUERIDA AMIGA, BELA PROSA... BELEZA SEM FIM... SIMPLESMENTE SUBLIME!!!
    AMIGA, BOM FIM DE SEMANA, BEIJINHOS DE CARINHO,
    FERNANDINHA

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  4. Perdas que se colam a nós eternamente.
    Gostei muito desta prosa sentida.

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  5. Talvez aquele dia fosse o dia das respostas aos grandes porquês...
    A menina, a rapariga, a mulher teria que vivenciar aquele dia, ainda que o mundo desabasse de uma só vez...

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  6. Escreves muito bem mas isso já sabias.Realmente há dias em que mundo desaba.

    bjo

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  7. Fantástico modo de descrever o momento. Não o conseguiria dizer assim. Belo! Muitos beijos e um bom domingo, Alice.

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  8. há sempre um dia em que o mundo desaba sobre nós.

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  9. Belo texto, numa bela imagem...
    Mais um belo trabalho neste belo blog.
    Bjs e uma boa semana para si,
    Nuno

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  10. Seria bom se, ao falarmos com uma pessoa fechassemos os olhos,
    assim teriam somente o sentimento, que se eterniza em nossas lembranças
    e não nos apegariamos a imagem que se desgasta ao tempo.

    Uma ótima semana em sol Maior!
    Bjs

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  11. carago! como doi dias a desabarem assim, sei bem o que são perdas e desenganos! E por mais que tenha perdido, nunca me habituei...e os que desabaram os meus dias, nunca os deixei realmente partir.

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  12. Podemos não reparar... mas todos os dias o mundo desaba um pouquinho em cima de nós... mas felizmente, existe sempre um raio de sol para tentar compensar isso...

    Mas à s vezes, parece que o mundo inteiro desaba.
    Sem um porquê.
    Sem explicação.

    E, nesses dias, até o sol nos parece cinzento e chuvoso.

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  13. Um belissimo texto, que sugere um olhar sobre uma vivência marcada por circunstâncias tão comuns e que nem sempre reflectimos sobre elas...
    Em todo o caso, iremos perguntar sempre porquê, até ao último instante da nossa existência...


    Um beijo!

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  14. E a vida é feita por vezes destas perdas , que deixam o seu buraco em nós...
    Lindo o teu post.
    Fico aguardando o teu tempo....
    Jhs mil

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  15. Que pungente descrição de um primeiro encontro com a morte, com a perda. Tudo a preto e branco e cinzintos tristes, como a foto que te ilustra...

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  16. Belo texto...que forma tão fantastica de escrever...
    beijinhos

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  17. Tens o dom de me fazer voltar.

    Bela prosa.

    Bjs

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  18. E não é por acaso que os nossos "porquês" dariam um livro inteiro. Ou mais!
    Um beijo!

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  19. Sempre os porquês. Apenas.
    Belíssimo.

    um beijo

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  20. falando de perdas que se perdem

    arrastando as asas

    moribundas,



    beijo




    ~

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  21. Dias de partidas que nos despedaçam.

    Porque terá que ser assim?


    Beijinhos.

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  22. dias dentro dos dias,

    pre sen tes

    no poço

    onde

    a água

    viajou





    *

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  23. Também as papoilas sãp breves

    mas resistem

    e renascem

    silvestres

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  24. Dias em que alguém parte... são dias que jamais se esquecem...

    Beijinho

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  25. A dor da perda é inigualável. Assim como o é a beleza da tua escrita.

    Beijos

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