segunda-feira, novembro 06, 2006

Pés descalços





Tratou cuidadosamente de tudo.
Escolheu o mais belo vestido guardado há tanto tempo no armário.
Pensou no penteado que lhe ficava melhor.
Ensaiou o toque de pintura que lhe realçaria o rosto.
Queria sentir-se bela.
Decidiu deixar os pés descalços.
Queria sentir-se livre.

Caminhou à beira-mar. Não sabia para onde ir.
Tinha cuidado de tudo menos do destino final. Ficava em aberto…
Sabia que tinha que ser longe da sombra protectora.
Olhou para trás. A mancha vermelha e calorosa chamava-a, num apelo confortável.
O mar estava ali perto e os pés enterravam-se na areia, num jeito quase voluptuoso.
Lentamente, seguiu. Passos hesitantes, pouco a pouco mais seguros.
Quando olhou novamente, a mancha vermelha era só um ponto perdido na lonjura.



Foto by Kenvin Pinardy

32 comentários:

  1. Distancia-te mas não o percas de vista...

    Kiss, até outro instante

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  2. A descrição fez-me lembrar um filme que vi, há muito tempo ... mas de que não lembro o nome ...

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  3. É um rumo em direcção á liberdade, de uma forma muito sedutora e num ambiente muito sensual, pés descalços, areia e "quando olhou para trás era só um ponto..." andou muito ou o suficiente para que as suas pisadas a fizessem longe.
    Um beijo

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  4. Itinerários de devaneis e lonjuras intemporais. Entretanto, talvés algures num corgo, um "lobo" fixava o luar....
    Vidas de "vidro"....

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  5. Visconti.Morte em Veneza.



    e depois

    a sedução dos Gotan Project.



    Abraço!
    _____________

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  6. Nem sempre me "obrigo" a interpretar o que leio. Por vezes, ler e gostar é quanto me basta.


    Um beijo

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  7. e foi-se... mas ficaram as tuas palavras: belas palavras.

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  8. Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

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  9. Há que seguir em frente, até todas as manchas se dissiparem. Quanto maior for a vontade e a determinação, mais perto será a vitória.

    Beijos

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  10. em frente é que está a vida (e não ligues ao cuidadoso do louco)

    ehehhe

    bom dia

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  11. tenho a vaga impressão de ja ter lido isto no teu anterior blog...é republicado? bj

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  12. Lindo...bela descrição que aqui nos brindas!
    Um beijo

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  13. Bonito.
    (Fónix, que as gajas complicam tudo!)
    :)=

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  14. faz lembrar pegadas na areia... curioso.

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  15. essa descrição fez-me lembrar alguém há uns tempos atrás...

    ui, doeu!

    Bjos Grandes1

    Cris

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  16. Vê a vida de longe... dá-lhe um avisão de conjunto!
    É bom.

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  17. Acho muito bonito.
    Não terá sido desejado deixar marcas para longamente recordar -- a maré subirá e apagará tudo!O vermelho no mar, tanto poderá ser para atrair como para manter distância.
    O cabelo e o vento serão indissociáveis.
    A volúpia perene.
    Bem composto
    (Pena a foto ser tão distante na exibição do rosto)
    Muito bom!
    :)

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  18. Sempre em frente e sem medo de deixar o passado para trás.
    É assim que eu vivo cada dia e ensino aos meus filhos.
    Lindo poema.
    Um abraço

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  19. Certas coisas têm que ficar para trás.

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  20. "Quando olhou novamente, a mancha vermelha era só um ponto perdido na lonjura."

    Mesmo que o destino final, não esteja à vista, o importante é caminhar... seguir em frente... de vestido há muito guardado, com o penteado vaidoso, de rosto radioso... simplesmente bela e pronta para voar!

    Magnifico.
    li-o como se estivesse diante de uma cena cinematografica...

    Um grande beijinho, amiga
    Este foi um encontro maravilhoso.
    Até breve :-)
    Daniela

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  21. É a vantagem de se ser livre...caminhar sem destino sem grilhões a prender-nos os pés.

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  22. Lindoooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooo!!!

    Sabes que vi tudo o que descreveste... caminhei... olhei para trás e sorri.

    Obrigada por este momento.

    Um beijo de miudaaa

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  23. Cinéfilo...
    Vigoroso...
    passadas seguras..sem olhar para trás....

    Mais uma vez, uma imensa surpresa este post!

    UM beijo

    Paulo

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  24. Olá! Este teu LINDO texto tem um não sei quê de fatalista... segundo a minha interpretação! Ainda BEM que em vez de se meter mar adentro, ela decidiu caminha ao longo dele, deixando que o Sol se transformasse num ponto luminoso lá bem no horizonte! Que se transformasse! Que se transformasse em ponto e não em poço! Que se transformasse em ponto a atiinjir... e NUNCA em porto para o nunca mais!
    Beijinho grande!

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  25. Momentos de vida... que são mais fortes que vidro...

    Um abraço ;)

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  26. E nem o vento levou a mancha vermelha...
    Gostei. Um beijo.

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  27. Muito obrigado pelo passeio à beira-do-mar...

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  28. Tudo certo... mas olha lá não te constipes!... ;)

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  29. Ás vezes também não sei para onde ir...e tenho muitas, mas mesmo mitas interrogações...
    um xi grande

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  30. Seria isso, a síntese do existir?
    Os sulcos profundos deixados na areia, linhas do passado, seriam sígnos da profusão infinita da dualidade que há entre os "sim" e os "não" com os quais nos deparamos a todo instante, dualidade essa que nos constrói?
    Feliz postagem essa.
    Um abraço.

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  31. Adorei este poema!

    batista filho

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  32. O "tratou cuidadosamente de tudo" é que me deixou preocupado. O resto é muito bonito.

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